A terceira dimensão de Tintim

Adaptação de Spielberg utiliza nova tecnologia para fazer jus ao famoso personagem dos quadrinhos criado pelo belga Hergé

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Quando o lendário presidente francês Charles De Gaulle disse que, em termos de fama internacional, seu único e verdadeiro rival era Tintim, ficou claro o quanto um personagem dos quadrinhos poderia se tornar relevante para a cultura mundial. E não se tratava de um super-herói norte-americano de fácil apelo, mas sim um jovem repórter belga dotado apenas de inteligência e boas companhias.

     Criado em 1929 (antes mesmo do surgimento das editoras Marvel e DC Comics) pelo artista belga Hergé, Tintim conquistou sucesso e reconhecimento internacional nas décadas seguintes, passando a alcançar também outras mídias. Além de se tornar referência dos quadrinhos franco-belgas - os álbuns de bande dessinée ou  banda desenhada  como são chamados - e inaugurar o estilo conhecido como “linha clara”, o personagem  ganhou movimento em uma série de filmes e um famoso desenho animado, até então a versão mais conhecida da obra.

     Isso porque, a partir de agora, a versão mais popular das histórias do mítico jornalista aventureiro deve se tornar o filme As Aventuras de Tintim, que recém estreou no Brasil trazendo o ilustre nome de Steven Spielberg como diretor. A escolha, contudo, não foi aleatória. O próprio Hergé declarou algumas vezes que ele seria o único cineasta capaz de fazer justiça aos quadrinhos transportando-o para o cinema, e isso bastou para despertar o interesse do diretor então famoso pelas aventuras de Indiana Jones. Passaram-se 30 anos até que a ideia se tornasse realidade, já que Spielberg tem os direitos da obra desde os anos 1980, mas decidiu esperar o tempo necessário para que uma nova tecnologia surgisse e se encaixasse com perfeição em seu projeto.

     Atravessando dimensões ao sair dos quadrinhos e passar pelos desenhos animados, agora Tintin chega literalmente à sua terceira dimensão com a produção realizada em motion capture, técnica que captura o movimento de atores reais e os coloca em cenários virtuais, situando-se na precisa linha entre a realidade e a animação. O resultado, felizmente, é fantástico. Satisfazendo os fãs da obra original pela fidelidade não apenas aos aspectos estéticos, mas principalmente no que diz respeito à essência de cada  personagem, o longa em 3D apresenta todos os elementos de um álbum de Tintim: o tom de aventura constante, as muitas piadas inocentes e ainda assim hilárias, e sobretudo a esperteza e o companheirismo como armas contra os inimigos. Neste primeiro filme - a sequência já está engatilhada e será dirigida por Peter Jackson -, a trama gira em torno do segredo do Licorne, um misterioso mapa dividido em três partes que revela toda uma história de duelos em alto-mar e tesouros perdidos relacionados aos antepassados do capitão Haddock.

     Visualmente espetacular, o filme conta ainda com a boa atuação de Jamie Bell, Andy Serkis e Daniel Craig, plenamente confortáveis em seus papéis. Enquanto Craig vive o esnobe vilão Sakharin, Bell encarna  o protagonista sem dificuldades, deixando mesmo para Serkis o grande destaque. Ator experiente na técnica de motion capture, ele faz de Haddock o mais expressivo e carismático personagem do filme,  que do início ao fim consegue provocar no espectador a mesma simpatia encontrada nas páginas brilhantemente desenhadas por Hergé.

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