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Longa sobre criador do FBI estreia hoje com Leonardo Di Caprio no papel e direção de Clint Eastwood

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A melhor coisa a respeito de J. Edgar é que ele é justo. Não o lendário personagem norte-americano que colecionava uma série de desvios morais e momentos obscuros, mas sim o filme a respeito de sua trajetória. Diferente do que se poderia esperar, e parecendo se enquadrar em uma tendência compartilhada pelo também imparcial A Dama de Ferro, o longa baseado na vida do criador do FBI tenta mostrar o ser humano por trás da lenda, com suas glórias e defeitos, deixando de lado a antiga tendência do cinema em heroificar figuras reais. O mérito disso se deve muito provavelmente ao olhar diferenciado de seu diretor, Clint Eastwood, que também experimentou abordagens do gênero em outros filmes com fundo cívico como A Conquista da Honra, Cartas para Iwo Jima, Gran Torino e Invictus.

Acompanhando a trajetória de J. Edgar Hoover desde  a criação de um novo modelo de polícia federal, nos anos 1920, até os últimos dias de sua vida ainda à frente do FBI, em 1972, o longa traz Leonardo DiCaprio no controverso papel, mostrando de forma equilibrada tanto a figura do visionário que revolucionou todo um sistema de investigação apostando em cadastros, impressões digitais e buscas concentradas, como também o homem que manipulou presidentes e plantou escutas criando um acervo pessoal de dados usados para chantagem. O filme se preocupa ainda em revelar aspectos íntimos como a sua relação de opressão com a mãe e lealdade com a assistente Helen Gandy, respectivamente vividas por Judi Dench e Naomi Watts, com destaque maior para o misterioso relacionamento com o parceiro de trabalho Clyde Tolson, encarado por muitos como um amante e companheiro fiel até a sua morte.

Um dos pontos criticados da produção recai sobre a maquiagem, que acaba causando estranheza já que passeia por 50 anos de história e tem a difícil missão de envelhecer os jovens atores principais. Preferindo uma abordagem contida e sem grandes apelos, o longa acabou ficando de fora da lista dos indicados ao Oscar, mesmo tendo sido apontado como um dos favoritos na época da divulgação de seu primeiro trailer, em setembro do ano passado. A atuação de DiCaprio, ainda que esquecida entre a forte concorrência deste ano, eleva o nível do filme e faz dele uma cinebiografia elegantemente justa.

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