Não é apenas no cinema que o retorno às origens tem dado bons resultados. Ao buscar inspiração em uma das eras mais divertidas da história do teatro, o espetáculo A Missão O Show evoca no palco a inocência e a simplicidade de um tempo em que essa missão dos atores era mesmo o puro entretenimento. Dirigido pelo carioca Márcio Libar e estrelado pela dupla de velhos amigos Lázar Menezes e Maycon Marcondes, o espetáculo baseia-se no chamado teatro de vaudeville, tipo de show popular no final do século 19. Para isso eles encarnam Smagler e Lergumeno, artistas de talentos duvidoses que buscam na comédia uma forma de reconhecimento dentro do show business, ansiando um dia chegar até a Broadway. Numa dinâmica cheia de sincronia e naturalidade, eles buscam em clássicos como O Gordo e o Magro e tantos outros a inspiração para devolver ao mundo uma graça que parece ter se perdido entre tantos artifícios. A pureza da história se revela quando o público percebe que, a despeito de todos os sonhos, nenhum deles jamais conseguiria ser feliz longe dos palcos, sem exercer o ofício de divertir as plateias por onde passam. A Missão O Show acontece neste domingo, às 20h, no Teatro do Sesc, com 1kg de alimento não perecível como ingresso.
Realização
Para o ator Lázaro Menezes, a descoberta desse gênero mudou sua visão e abriu novos caminhos nas artes cênicas. “Quando participei da oficina ministrada pelo diretor Marcio Libar, A Nobre Arte do Palhaço, pude embarcar um pouco e buscar a graça, caí de cabeça no mundo da palhaçaria”, conta um dos protagonistas de A Missão O Show, onde divide a cena com Maycon Marcondes. “E agora montar uma peça calcada na dupla, que é um dos maiores sinônimos da comédia e trazê-la para os palcos da minha terra natal é uma realização pessoal, ver familiares, amigos na plateia e convida-los a rir, já faz valer a pena”, complementa Lázaro. Para o diretor Marcio Libar, o que mais o estimulou no processo de montagem foi trabalhar com uma dupla. “A dupla é a maior expressão da arte da palhaçaria, o eterno conflito entre a autoridade e a rebeldia, que todo ser humano traz dentro de si, este sendo por sua vez um dos maiores conflitos da humanidade: ser quem você realmente é ou ser aquilo que querem que você seja”, observa o diretor nacionalmente reconhecido como o “guru espiritual da comédia carioca”.
Noites de variedades
Apesar de ter suas origenas provavelmente relacionadas a um tipo de espetáculo teatral que existia na França desde o começo do século 18 em que os atores misturavam pantomima e trechos de musical, o gênero Vaudeville tem como marco inicial os espetáculos apresentados pelo cantor Tony Pastor em 1881, em sua casa de shows em Nova York. A partir daí o evento caracterizado por reunir artistas variados como cantores, dançarinas, atores, ilusionistas e acrobatas se popularizou por todos os Estados Unidos e Canadá, fazendo sucesso até as primeiras décadas do século 20. Com uma sequência de atos geralmente independentes que misturavam música, comédia e mágica, o teatro de vaudeville, ou teatro de variedades como também era chamado, passou de atração para públicos masculinos a entretenimento familiar. Seu declínio, porém, começou durante a Grande Depressão de 1929, quando o surgimento do rádio e da televisão contribuíram para o desaparecimento do vaudeville. No dicionário, a expressão vaudeville é definida como comédia ligeira baseada quase unicamente na
intriga e no equívoco.