Passada uma década do grande trauma norte-americano, parece finalmente possível enxergar não apenas dor, mas também beleza e sensibilidade em uma fábula que parte dos atentados de 11 de Setembro. Após vários filmes abordando o medo, a violência, a insegurança e a intolerância que giram em torno disso, eis que chega aos cinemas Tão forte e tão perto, drama baseado no livro infanto-juvenil Extremamente alto, incrivelmente perto (era mesmo necessário simplificar o nome?), que foi indicado ao Oscar em duas categorias, melhor filme e ator coadjuvante para Max Von Sydow.
Em tom de fábula sensível, a trama vai e volta em um curto espaço de tempo para mostrar a relação de proximidade entre um garoto prodígio e seu pai, e a estratégia aventureira do menino para curar seu trauma, ao mesmo tempo em que revela aos poucos o momento decisivo entre as duas realidades: a morte do pai durante o atentado ao World Trade Center. Com Tom Hanks e Sandra Bullock como o casal de pais e a revelação mirim Thomas Horn como o jovem superdotado e possivelmente portador da síndrome de Asperger - escolhido para o papel em partes por ser também um prodígio, já que venceu o game show americano Jeopardy com apenas 12 anos, o filme tem entre os seus destaques o experiente Von Sydow, conhecido por seus papéis nos filmes de Ingmar Bergman, que aqui faz um senhor que não diz uma palavra durante toda a jornada mas tem papel fundamental para o desenvolvimento da história, e Viola Davis, indicada ao Oscar de melhor atriz por seu comentado papel em Histórias Cruzadas. Ainda que dotado de um ótimo elenco e uma história tocante, Tão forte e tão perto tende um pouco ao exagero no uso de artifícios para causar emoção, o que não chegaria a ser um defeito se transcorresse naturalmente. A indecisão a respeito do tema central do longa também não ajuda: a perda trágica, a dificuldade de relacionamento com a mãe, o comportamento excêntrico do protagonista, a busca pela esperança, a frustração de não chegar aonde esperava, a culpa e a inconformidade são algumas das questões que surgem, poucas bem resolvidas ao final da projeção. Independente disso, está uma produção de cuidado e qualidade, boas atuações independentes e um final edificante, que busca sensibilizar sem a pretensão de resolver um trauma profundo como este.