“Se você já se perguntou de onde vêm os sonhos... Olhe em volta: é aqui onde eles são feitos”. Difícil encontrar uma definição mais sensível e precisa sobre o cinema, tema central do novo filme de Martin Scorsese, A invenção de Hugo Cabret. Usando o próprio instrumento para homenagear a sétima arte, o experiente diretor revela o provável motivo para que seja um dos maiores cineastas de seu tempo: uma paixão incrível e interminável por aquilo que faz. Inspirado pelo livro infanto-juvenil de Brian Selznick, ele decidiu adaptar a obra depois que sua filha pré-adolescente disse que este daria um bom filme, e sua mulher perguntou por que ele ‘não rodava um longa que seus filhos pudessem assistir, para variar um pouco’.
Mestre em produções de suspense e violência, ele assumiu o desafio e fez de Hugo mais um marco em sua carreira, desta vez carregado de tanta beleza e sensibilidade que faria duvidar de sua assinatura não fosse a certeza de um gênio por trás de cada detalhe. Afinal, não é para qualquer um a capacidade de dirigir um filme “infantil”, de época, com atores mirins e uma história de aventura fantasiosa sem soar tedioso ou piegas por nem um segundo. Drama de alcance adulto pela complexidade e verossimilhança com que expõe mistérios e descobertas, A invenção de Hugo Cabret é uma surpreendente pérola do cinema atual, parecendo unir as duas pontas que vão dos seus primórdios até a atual tecnologia 3D para provar que essa arte não morreu e nem vai deixar de existir.
Indicado a nada menos que 11 estatuetas nesta edição, Hugo por pouco não foi o grande destaque do Oscar: apesar de sair com a mesma quantidade de troféus que O Artista, acabou ficando com categorias técnicas, enquanto o rival francês levou os principais prêmios da noite, incluindo melhor diretor, que com todo mérito caberia a Martin Scorsese. Injustiçado ou não, o filme estreia em Passo Fundo neste fim de semana em versão 3D, trazendo a experiência do longa exatamente como o cineasta imaginou. Além dos maravilhosos cenários e dos efeitos especiais, o filme conta com um excelente elenco formado pelos jovens Asa Butterfield e Chloë Moretz, e o experiente Ben Kingsley, que interpreta o precursor dos filmes de ficção Georges Meliès. “Eles foram fantásticos, construímos uma relação de mútuo respeito. Somos iguais, estamos no mesmo nível”, afirma Kingsley sobre o elenco mirim, que também tem a companhia de Jude Law, Sacha Baron Cohen e Christopher Lee. Sobre o tom que assumiu para o seu personagem, ele explica: “você não pode sentimentalizar esses papéis, honestamente. Não pode. Se quer trazer o público para aquele sentimento de redenção, você tem que interpretar o personagem partindo do seu lado mais sombrio”. Kingsley também fala sobre como interpreta essa tendência do cinema moderno de voltar ao passado. “Como o cinema esta indo para a direção da tecnologia fantástica, acho que há uma curiosidade dos cineastas de ir de volta às raizes para se perguntar como tudo começou”. A invenção de Hugo Cabret está em cartaz em versão dublada 3D no Bella Città Shopping, e versão tradicional no Bourbon.
A invenção de Scorsese
· 2 min de leitura