O reinventor do surreal

Após a morte de Moebius, clássico O Homem é bom? chega despertando curiosidade

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Décadas após os seus primeiros trabalhos, quando já era um senhor mundialmente consagrado e conhecido por um pseudônimo tão estranho e marcante quanto suas obras, Jean Giraud declarou que, no começo da carreira, era incrivelmente ambicioso e tinha em mente impressionar a todos como um grande artista dos quadrinhos. Deu certo: hoje Moebius é nada menos que um ícone francês e um divisor de águas no que diz respeito a estilo e imaginação. Morto aos 73 anos no último sábado, 10 de março, o desenhista elevou o conceito de surrealismo ao extrapolar limites e colaborar definitivamente para que os quadrinhos fossem vistos como uma manifestação de arte.

Criando cada desenho seu como se fosse uma pequena obra-prima, uma espécie de visão de paisagens de outros mundos e outras dimensões jamais exploradas, Moebius teve seu primeiro trabalho publicado aos 15 anos, e então nunca mais parou. Nos anos 1960, ilustrou o faroeste Blueberry e colaborou para a revista Hara-Kiri, na qual apareceu pela primeira vez seu pseudônimo Moebius, inspirado no sobrenome de um  matemático alemão. Como se o apelido lhe desse sorte e lhe fizesse incorporar um novo gênio, foi a partir daí que encontrou seu caminho: a ficção científica. Após várias experiências em revistas do gênero, fundou a publicação Métal Hurlant, um dos títulos mais importantes da história dos quadrinhos, onde publicou o clássico Arzach, considerado revolucionário para a época pelos desenhos arrojados e pela ausência de texto. Outro ponto alto de sua carreira foi ao lado do cineasta chileno Alejandro Jodorowsky, com quem criou a renomada série Incal.

Eleito o melhor artista francês de 1977 pelo Festival de Angoulême, Moebius migrou para os Estados Unidos e fez ainda mais sucesso em sua  parceria com a Marvel Comics, que rendeu prêmios Harvey e Eisner. Além de um um extenso currículos nos quadrinhos, o artista também colaborou com o cinema com a criação de storyboards (desenhos que compõem uma espécie de roteiro visual) para filmes como o nunca finalizado Duna, Alien - O oitavo passageiro, Tron, O segredo do abismo, Space Jam e O quinto elemento. No Brasil, até o ano passado, um dos poucos trabalhos do artista presentes nas livrarias era Incal, publicado pela Devir. Em 2011 o lançamento do selo de quadrinhos Nemo empolgou os fãs ao anunciar alguns dos maiores clássicos do autor em edições semelhantes ao original europeu. Após Arzach e Absoluten Calfeutrail & Outras Histórias, chega agora às bancas o clássico de 1974 O Homem é bom?, que com a repercussão  da morte de Moebius deve despertar a curiosidade do público e chegar em excelente hora. A editora aproveitou a chance para manifestar o pesar pela perda do artista, mas exaltar o fato de que suas criações estão vivas e tão atuais como nunca.

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