Se a trajetória é uma linha reta percorrida por um corpo impelido por uma força, então não há no dicionário palavra mais precisa para descrever o caminho de um artista. Na exposição Trajetória, o que se vê é uma infinidade de trajetórias, linhas retas que se tocam, se cruzam ou andam lado a lado, mas todas impelidas por essa força em comum, sem nome e sem medida, mal descrita como uma angústia silenciosa que sabe se manifestar de uma maneira só. Inaugurada na última segunda-feira, 11, a mostra idealizada por Mariane Loch Sbeghen transformou as paredes das três salas do Museu de Artes Visuais Ruth Schneider em uma visita atemporal à arte passo-fundense.
Para a professora e coordenadora do curso de Artes Visuais da Universidade de Passo Fundo, o desejo era revelar ao público uma espécie de panorama da produção local, incluindo aí não somente artistas no sentido mais específico da palavra, mas também aqueles que influenciam esse percurso no dia-a-dia. “São trabalhos de artistas influentes na nossa história como Guilhermina Borges e Miriam Postal, mas também de professores de artes que afetaram cada uma dessas trajetórias, e continuam afetando através dos novos alunos”, explica Mariane, que contou com a presença maçiça dos acadêmicos durante o lançamento. Apesar de se ver diante de uma imensidão de artistas e trabalhos que poderiam fazer parte da exposição, a professora utilizou como critério a atuação e a diversidade de cada um. “Tivemos de fazer um recorte dessa produção, buscando retribuir o esforço daqueles que se empenham em fazer com que a arte prospere em Passo Fundo. Felizmente
Com curadoria de Mariane, Margarida Pantaleão e Maria Lucina Busatto Bueno, a mostra se divide em três momentos: as origens do ensino da arte no município com obras de Guilhermina Borges e suas descendentes; uma homenagem pelos 10 anos da morte da artista Roseli Doleski Pretto, considerada a grande responsável criação do MAVRS; e a reunião de obras de artistas e professores contemporâneos.
Guilhermina Borges, uma artista precursora
Willermine Zügel se apaixonou pela arte desde cedo. Nascida em Sttudgard, na Alemanha, ela veio para o Brasil com 15 anos, e acompanhou seu pai, pintor e escultor, restaurando quadros e painéis pelo interior do estado. Ao casar-se, passou a assinar seu nome como Guilhermina Borges, imortalizando-o na história da arte passo-fundense ao fundar por aqui a primeira aula particular de desenho e pintura, ainda em 1905. Considerada assim a grande precursora das artes em Passo Fundo, Guilhermina lecionou pintura no Instituto Educacional por 23 anos e foi uma das idealizadoras da Escola de Belas Artes, hoje Faculdade de Artes e Comunicação. Além disso, deixou uma pequena linhagem de artistas. Assim como a mãe, Laura Borges Felizardo fez história na cidade, formando-se no Instituto de Artes da UFRGS e atuando na UPF por quase quatro décadas. A neta, Miriam Goelner Giaretta, seguiu os passos das ancentrais, estudou na FAC e tornou-se artista. “Foi uma forma de homenagear essas mulheres que abriram caminho e influenciaram nas trajetórias seguintes”, explica a professora Margarida.
Inesquecível Roseli
“Se não fosse ela, talvez esse lugar nem mesmo existisse e não estivéssemos aqui”, afirmou a coordenadora dos Museus Tania Aimi na abertura da exposição Trajetória. Com uma sala inteiramente dedicada ao trabalho de Roseli Doleski Pretto, a mostra aproveita para relembrar a importância e originalidade do trabalho da artista uma década após a sua morte. Para Maria Lucina Busatto Bueno, é fascinante perceber a evolução dos traços e cores presentes em sua obra, inclusive em seu último quadro, exposto no local. A exposição Trajetória pode ser visitada no Museu de Artes Visuais Ruth Schneider, de terças a sextas-feiras, das 9h às 18h, e aos sábados e domingos das 14h às 18h.