Los Angeles, 2019. A vista panorâmica de uma cidade noturna explode na tela junto com as labaredas de fogo que saem descompassas do topo dos prédios e se encontram com raios vindos do céu, até que um automóvel aparece de repente voando em sua direção. As luzes da cidade se refletem na íris de um olho incrivelmente azul em absoluto close-up, como se alguém observasse atento a gigantesca construção que se forma aos poucos bem no centro da tela, e da qual a câmera se aproxima lentamente até entrar por uma de suas janelas.
Se há um jeito certo de criar suspense, provocar expectativa e introduzir uma atmosfera logo nos primeiros quatro minutos de filme, este é certamente o jeito Blade Runner de se apresentar. Lançado no dia 25 de junho de 1982, o filme completa 30 anos nesta segunda-feira ainda imbatível no posto de grande obra-prima da ficção científica. Dirigido por Ridley Scott e estrelado por Harrison Ford, o longa fez história ao adaptar o livro Do Androids Dream of Electric Sheep?, de Philip K. Dick, e tornar-se a partir daí um dos clássicos mais influentes de todos os tempos, com seus personagens marcantes e passagens inesquecíveis ecoando pelas décadas seguintes. Ambientado em um futuro pós-apocalíptico sem precedentes, Blade Runner ainda hoje impressiona pelo seu caráter visionário seja na estética inacreditável para a época, seja nos temas existencialistas que aborda ao fazer sua alegoria de um mundo dividido por humanos e andróides. Na trama, a poderosa corporação Tyrell desenvolve robôs mais fortes e tão inteligentes quanto o homem, chamados de Replicantes, para utilizá-los em colônias planetárias. Quando um grupo de robôs experimentais dotados da possibilidade de desenvolver emoções provocam uma chacina na Terra, um ex-caçador de androides, ou ex-Blade Runner, é então encarregado de capturá-los. E é aí que tem início a saga de Rick Deckard, um tira no melhor estilo noir que permeia todo o filme, cruzando o caminho de figuras tão assustadoras quanto fascinantes, como a doce Rachael, a insana Pris e o poético Roy Batty, aquele que deveria ser o vilão do filme mas torna-se um dos personagens mais densos e emblemáticos do cinema. É através deles e de sua condição de perdidos, fugitivos e temporários que o filme faz um tratado sobre a relação do ser humano com o tempo e com a proximidade da morte.
Mas no fim a verdade é que não há muito o que ser dito sobre Blade Runner, pois nada substitui a experiência sensitiva de duas horas que ele proporciona cada vez que for visto, ainda que esta seja a sua primeira, milésima ou última vez. Pois empre será hora de morrer.
O futuro vai começar
“Uma vasta fazenda onde não existem cercas ou qualquer coisa à vista, e é plano como as planícies do... onde são as Grandes Planícies da América? Kansas, onde você pode ver por quilômetros. E está sujo, mas está sendo limpo. No horizonte há uma colheitadeira futurista com faróis ligados, pois está amanhecendo. A colheitadeira é do tamanho de seis casas. Em primeiro plano há uma pequena cabana de tábuas branca com um alpendre como se fosse de As Vinhas da Ira. Da direita vem um carro, chegando em cerca de dois metros do chão e sendo perseguido por um cão. E isso é o fim de tudo, não vou te dizer mais nada”. Se não há como falar de Blade Runner sem falar do futuro, nada melhor do que comemorar seu trinta anos com a notícia de que o filme ganhará uma continuação pelas mãos do consagrado diretor Ridley Scott. No início deste mês, o cineasta que se encontra atualmente em alta pelo lançamento de Prometheus resolveu descrever uma cena da sequência, o que foi suficiente para empolgar fãs do mundo inteiro. Além disso, o diretor afirmou que está nos primeiros estágios de desenvolvimento e que o autor do script original, Hampton Fancher, ainda nem começou a trabalhar no roteiro, mas ele já adianta que o filme se passa alguns anos depois da trama do original, desta vez com uma mulher como protagonista. Ainda que a notícia não esteja confirmada, Ridley Scott também garante que deve encontrar um papel para uma participação especial do ator Harrison Ford na nova versão. Enquanto espera pelo filme que deve ser lançado apenas por volta de 2014, o público pode ficar com o lançamento da edição comemorativa de 30 anos de Blade Runner em versão blu-ray. O pacote conta com os quatro discos em blu-ray e DVD da versão Director’s Final Cut e outras três edições, além de extras inéditos, um livro de 72 páginas com material de Ridley Scott, acompanhdo de pôsteres e fotos da produção. Ainda não há data oficial de lançamento, mas a edição já se encontra em pré-venda em sites estrangeiros como Amazon.