À primeira vista, chega a soar quase irônico que a exposição de Alfredo Aquino se chame Apenas Pintura. As telas de grandiosas proporções - simetricamente dispostas em um espaço onde o contraste do branco faz com que se destaquem ainda mais - podem ser tudo, menos “apenas” pinturas. Por outro lado, o nome se encaixa com perfeição quando o artista plástico porto-alegrense revela sua intenção. “Essa é uma discussão em cima dos conceitos da pintura. E antes de falar o que ela é, é importante dizer o que ela não é. Digo isso porque ela não é um manifesto, não tem um discurso ou uma justificativa conceitual que vai mostrar por que ela é de um jeito e não de outro. Quis escapar de justificativas teóricas. Então o que vale aqui? Vale a pintura, apenas pintura”. O talento para explicar sua arte com palavras vem do fato de que, além de conceituado artista com passagens pelo MASP e pelo MARGS, Aquino também é escritor. Fã das Jornadas Literárias, ele fala do prazer em trazer seu trabalho a Passo Fundo. “Chamo os quadros de cartas, pois considero que uma exposição só se alimenta e tem sentido no momento em que cria linguagem, e isso se dá através do outro, do observador. É só assim que a obra ganha vida, então esse convite do Sesc para fazer esse circuito no interior do estado é muito importante, é o que completa o trabalho”, afirma Aquino, que com a mostra também pretende refletir sobre uma questão paradigmática. “Muitas vezes os artistas se apropriam de algo que já foi feito por outros. Eu, por exemplo, estudei profundamente o Duchamp, mas aqueles que fazem sua obra à maneira de Duchamp não me interessam pois são apenas o que Duchamp já fez. Então é uma busca difícil, fazer alguma coisa que, ao se bater o olho, alguém diga ‘puxa, esse é fulano de tal’, onde o autor se identifique com a própria obra. E essa é a minha tentativa de busca por esse paradigmatismo”, analisa o artista.
O que logo se mostra único e fascinante na obra do pintor é a sua entrega aos labirintos da cor. “Pra mim o maior pintor brasileiro de todos os tempos chama-se Arcanjo Ianelli, um artista paulista sublime, que quando pintava chegava a cobrir a tela trinta vezes em busca de uma cor que nem mesmo existia. Essa influência aparece, por exemplo, num quadro meu de uma mulher azul turquesa. Existe ali uma malícia na questão cromática, pois ele foi todo estruturado em vermelho e depois veio a cor fria, então quando você olha a primeira vez enxerga uma tela azul, mas em seguida há um trabalho de sobreposições e camadas que permite vislumbrar esse fundo vermelho”, traduz Alfredo. “Essa técnica trabalha com os comprimentos de ondas das cores, que provocam um certo encantamento inconsciente, pois nosso cérebro percebe que há ali essa dicotomia, e nisso Ianelli era um mestre. Sempre discutimos muitas questões relativas à pintura, essas possibilidades de discurso em torno de uma exposição, e aqui procurei justamente fugir disso e trazer à tona apenas a pintura”. Quando enfim o “apenas” que poderia soar como pouco ou sem importância se transforma em uma palavra forte e decisiva, que ignora o supérfluo e consagra a essência da arte com a consciência de que não é preciso encontrar motivos além disso, Apenas Pintura se converte em um não-manifesto incrivelmente honesto sobre um pintor, um observador e esse abismo aproximado por pouco de tinta. A exposição está aberta à visitação do público na sala de exposições do quinto andar do Sesc, de segunda a sexta-feira, das 9h às 19h, até o dia 31 de agosto.