O que cada um serve em seu prato pode até ser diferente, mas há uma coisa que todos têm em comum: muita fome! A intensa maratona de desfiles, oficinas e apresentações do Festival de Folclore faz com que as refeições dos dançarinos sejam um dos momentos mais importantes para aguentar a semana e resistir à exaustão. Com rotinas tão regradas quanto as de atletas de alto rendimento, eles sabem que precisam reunir o máximo de energia, principalmente no almoço. O resultado é um incrível desfile de montanhas de carboidratos, pilhas de fatias de pão, enormes porções de massa e o máximo de batata frita que couber no prato. O cardápio é complementado por arroz, feijão, dois tipos de carne e muitos legumes, além da variedade de frutas e as sobremesas que geralmente trazem doces típicos do sul, como o sagu, a abóbora e a ambrosia.
A ordem é experimentar
Dona do bufê do Caixeiral - onde tradicionalmente os mais de 800 envolvidos fazem suas refeições durante dez dias -, Elisandra Jesus contabiliza cerca de 350 quilos de comida por refeição. Às 11h15 está tudo praticamente pronto, mas sua equipe está na cozinha desde às 7h30 da manhã. “Quando encerramos o almoço, por volta das duas, já é hora de começar a preparar o jantar. Fechamos a cozinha pouco antes da meia-noite”, relata a cozinheira, que está experimentando introduzir alguns pratos diferentes, típicos da região. “No domingo fizemos um carreteiro de charque, e o pessoal gostou muito”. Além de atravessar o mundo para estar aqui, a maioria dos dançarinos estrangeiros deixa claro que pretende descobrir e aproveitar tudo o que for possível. Joair Mineto, ecônomo do clube Caixeiral, conta que eles vêm experimentando mesmo de tudo. “Eles comem feijão, carreteiro, experimentam o que for servido”, conta Mineto. Perto dali, um membro da delegação da Turquia olha desconfiado para a travessa de guisado e resolve chamar o garçom. Ainda que não falem a mesma língua, se comunicam facilmente. O garçom já parece ter sido avisado que os turcos não comem carne de porco, e assim que vê o homem gesticulando, acena positivamente e diz “muuu”. O outro entende na hora: sim, é carne de gado, e serve-se generosamente de guisado com massa penne e um pouco de salada.
As curiosidades deste ano
Apesar de transcorrer sempre de forma tranquila graças à experiência do clube em receber o Festival, há algumas curiosidades que chamam atenção dos organizadores. Mineto conta que, apesar de não entender direito o porquê, os chineses pedem muita água quente. “Acredito que eles adicionem algum tipo de erva ou chá”. No bar improvisado num dos cantos do salão, as atendentes revelam as excentricidades de alguns grupos em particular. Enquanto as delegações latinas exageram na pimenta, russos e chineses pedem muito os refrigerantes de fruta como Fanta e Sprite, e não a previsível Coca-Cola, talvez por não estarem acostumados a essas bebidas aqui tão populares.
Mas tem quem não fique apenas no refrigerante. “Os italianos gostaram muito de experimentar caipirinha, viraram adeptos”, contam elas. Após cada refeição, eles também encontram tempo para interagir uns com os outros, tudo ao som de música ambiente que, no almoço de ontem, era uma versão latina de clássicos dos Beatles. Enquanto os dançarinos vão deixando o salão aos poucos, a cozinha volta a funcionar com força máxima porque daqui a algumas horas começa tudo de novo. E logo já é hora do jantar.
Pimenta, água quente e caipirinha!
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