Nosso amigo Erasmo Carlos

São 50 anos de uma carreira de muitos sucessos, aliados a uma simplicidade ímpar. ?? neste clima de comemoração que Erasmo Carlos vem a Passo Fundo brindar esse meio século de carreira. O show acontece no Gran Palazzo no dia 4 de outubro. O Jornal O Nacional conversou com o cantor sobre rock, cinema, parcerias e mulheres.

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Pablo Tavares/ON*

Talvez para quem seja fã de Erasmo Carlos o termo ?EUR~caubói do amor?EUR(TM) seja um tanto incomum. ?EUR~Caubói do amor?EUR(TM) era como era conhecido Bad Blake, o personagem de Jeff Bridges no filme ?EURoeCoração Louco?EUR?, mas garanto que, de certa forma, ele se encaixa para definirmos o Tremendão (esse sim apelido mais comum).

Erasmo Esteves (substituiu o Esteves por Carlos depois), tal qual um caubói, desbravou terras e terras com sua verve rock?EUR(TM)n?EUR(TM)roll e, aliado a gente do calibre de Tim Maia, Jorge Ben Jor e Roberto Carlos, conquistou terra brasilis com suas letras simples e melodias diretas. Fez parte do furacão chamado Jovem Guarda, e depois se lançou em uma carreira sólida de cantor e compositor. E desde então, passaram-se 50 anos de muitos sucessos e parcerias que gravaram seu nome no inconsciente das pessoas e da música brasileira.

Erasmo vem a Passo Fundo com seu show comemorativo ao meio século de carreira, que lhe rendeu um CD e um DVD gravados ao vivo no Theatro Municipal do Rio de Janeiro, ano passado. Antes, porém, ele conversou conosco sobre sua carreira, suas parcerias, sobre o cenário musical brasileiro atual, e a maior tônica em sua vida: as mulheres. Um dos cantores que melhor conseguiu mostrar, de maneira simples e doce, o maravilhoso universo feminino, não poderia ter outra força motriz. Um verdadeiro caubói do amor. Confira:

O Nacional - Você lançou álbuns de inéditas em 2009 e 2011, e agora vem com o disco ao vivo ?EURoe50 Anos de Estrada?EUR?, isso sem contar as turnês por todo país. A essa altura da carreira, como manter esse ritmo?
Erasmo Carlos- ?? muito bom isso, a gente se sente vivo trabalhando, e agradecendo a Deus às coisas que acontecem... O artista que não trabalha é um artista frustrado. Meus discos têm agradado à crítica, eu tenho formado novos públicos, o publico da internet, que gosta de um trabalho meu e vai procurar as coisas antigas que eu fiz, e aí acaba tomando meu trabalho antigo como se fosse novo. Estou muito feliz.

ON - Como foi feita a escolha do repertório de ?EURoe50 Anos de Estrada?EUR??
Erasmo ?EUR" O repertório já existia, porque é o repertório do show ?EURoeRock?EUR(TM)N?EUR(TM)Roll?EUR?. Aí eu gravei o DVD ?EURoe50 Anos de Estrada?EUR?, por estar completando 50 anos de carreira, e logo após gravei o disco ?EURoeSexo?EUR?. Hoje em dia o meu show é ?EURoeSexo & Rock?EUR(TM)N?EUR(TM)Roll?EUR?. O DVD foi apenas uma comemoração do show que já existia, com coisas da Jovem Guarda, dos anos 1970, e coisas atuais também.

ON - Você sempre foi o mais roqueiro da Jovem Guarda, e um dos poucos daquele tempo que se mantém na ativa até hoje. Isso é porque o rock ?EUR" e o Tremendão ?EUR" não envelhecem?
Erasmo ?EUR" A gente envelhece fisicamente, mas por dentro não. E rock?EUR(TM)n?EUR(TM)roll é um antídoto para você não envelhecer, pois é uma música de rebeldia, de contestação, de amor, de sexo... Rock?EUR(TM)n?EUR(TM)roll é um convite a não se acomodar!

ON - O que é notável em 50 anos de carreira são as parcerias. Desde Roberto, muita gente já cantou e compôs com você. Nelson Motta já declarou em entrevistas que compor com Erasmo Carlos ?EURoeé a glória?EUR?. Como funciona esse processo?
Erasmo ?EUR" Geralmente eu procuro o artista quando eu vou gravar. Mas a gente sempre tem uma afinidade, nunca é nada com nada. Eu não faço música com um cara que eu não conheço, que eu não tenha uma afinidade. Geralmente é um amigo meu, ou um cara que eu tenha feito um show junto... Com o Arnaldo Antunes foi assim: eu participei do DVD dele, o ?EURoeAo Vivo Lá Em Casa?EUR?, e dessa parceria nasceu o papo: ?EURoepô, vamos fazer uma música juntos?EUR?, então fizemos. Com a Marisa Monte também. O Nelson Motta eu conheço de vários anos, é uma pessoa muito querida. Sempre tem de ter uma afinidade, nunca é ?EURoedo nada?EUR?.

ON - Uma das maiores curiosidades dos fãs talvez seja o fato de como funciona sua parceria com Roberto Carlos. Quando vocês eventualmente trabalham juntos, um vai à casa do outro para trabalhar, ou vocês trocam arquivos, ideias, de algum outro modo?
Erasmo ?EUR" Geralmente eu vou à casa dele, porque lá ele tem um piano que ele gosta muito... Mas a gente só trabalha junto quando ele precisa, ele não grava nunca, tá há cinco anos sem gravar, sabe? A gente têm músicas inéditas feitas há cinco anos. Mas ele nunca mais gravou músicas inéditas, e eu tenho uma ânsia em trabalhar, em compor, pois eu sou compositor, e o que um compositor faz? Ele compõe. Se eu não faço com o Roberto, eu faço com outros, mas eu tenho que compor. Porque minha vida é essa, fico ansioso querendo fazer coisas, querendo novidades, querendo aprender... Gosto bastante de me misturar com jovens. Eu gosto de juventude porque eu aprendo muito. Eu já os ensinei, e agora eles me ensinam. Eu gosto muito dessa troca.

ON - ?EURoeMinha Fama de Mau?EUR?, sua autobiografia, é uma espécie de ?EURoeálbum de memórias?EUR? não só suas, mas de vários acontecimentos da música do país. Quando você sentiu essa necessidade de mostrar às pessoas como foi sua história?
Erasmo ?EUR" Não foi necessidade, foi desejo. Eu sempre quis escrever livros. A motivação foi contar causos engraçados da minha vida, e aos poucos a coisa foi virando. A editora até queria que fosse autobiografia, mas eu não acho que seja isso, pois eu só conto coisas engraçadas, não conto as derrotas. Uma biografia é uma coisa muito séria, não gosto de biografias escritas quando o cara está vivo, porque o cara vai falar bem dele mesmo. Se Hitler escrevesse uma autobiografia, ele ia dizer que era bonzinho, que ele tinha boas intenções... Então ficou um livro de memórias e causos engraçados que aconteceram na minha vida, de meus amigos, minha família, dos artistas que convivem comigo.

ON - Já se passaram 30 anos do álbum ?EURoeMulher?EUR?, e desde então você é reconhecido por compreender e respeitar a figura feminina como poucos. Pioneiro no assunto, como você encara a situação da mulher atualmente? O pensamento da sociedade evoluiu ou ainda falta muito?
Erasmo ?EUR" Olha... O ponto de vista sexual, por exemplo: todo o avanço que houve dos anos 1960/70, regrediu tudo. O politicamente correto, essas coisas todas, causaram uma regressão em todos os avanços dos anos 1960. E a mulher tenta se impor como ela sempre desejou e de repente, talvez, tenha perdido um pouco o caminho. Ela criou um monstro, e agora não sabe como lidar com ele.

ON - Em agosto aconteceu a estreia do filme ?EUR Beira do Caminho, que tem como título um dos seus maiores sucessos, e adapta para o cinema grandes momentos da parceria Roberto/Erasmo. Caso já tenha visto, o que achou dessa transposição? Nesse mesmo sentido, você fez vários filmes nos anos 1970 onde as canções tinham papel importante. Como vê essa relação entre música e cinema?
Erasmo ?EUR" Ainda não vi o filme, pois dificilmente vou ao cinema, fico esperando sair em DVD. Mas a relação entre música e cinema é uma coisa bonita. Quando eu era menino, eu via os filmes de ?EURoecarnaval?EUR?, pois as músicas de carnaval eram lançadas nos filmes da Atlântida. Fica uma coisa documentada na tela. Hoje em dia dificilmente se faz isso, não se vê o ator cantando nas telas. Eu vi muitos filmes de rock?EUR(TM)n?EUR(TM)roll, onde eu assisti pessoas que eu nunca mais vi, tipo Gene Vincent & The Blue Caps, que eu assisti em um filme e nunca mais vi. No filme ele canta ?EURoeBe-Bop-A-Lula?EUR?, uma música que eu adoro, que eu só vi no cinema uma vez, porque ele registrou aquilo.

ON - Pai do rock, ícone da Jovem Guarda, sucesso nas rádios por meio século. O que Erasmo Carlos escuta (e indica) hoje? Como vê o atual momento musical do país?
Erasmo ?EUR" Tem muita coisa boa, mas que não aparece... Só aparece o que o YouTube quer, coisas toscas, aberrações. Mas tem muita gente boa fazendo música, só que não consegue aparecer... (pausa) Esse jeito de gravar, onde se pode gravar na sua casa, tudo afinadíssimo, tudo correto, tudo perfeito... Então, saem as coisas perfeitas, as músicas saem perfeitas, mas sem emoção. Pois a emoção está no erro da pessoa, na tentativa de acertar é que vem a emoção.

ON - Sobre ?EURoeRock?EUR(TM)N?EUR(TM)Roll?EUR?, Rita Lee escreveu que ?EURoeas músicas são a simplicidade com trombetas; as letras o pretinho básico com diamantes?EUR?. ?? essa simplicidade que guia sua carreira?
Erasmo ?EUR" Sempre, bicho... A simplicidade foi uma tônica na minha vida, assim como o amor e a mulher. Toda história que eu conto em músicas tem o fio da meada que é o amor, ou uma mulher. Gosto de usar palavras simples porque não me considero um poeta, e sim um contista, um cara que conta uma história rimada. E eu uso o dia-a-dia das pessoas, da vida, o que eu vejo na TV, uso tudo misturado. Minha inspiração é a própria vida.

ON ?EUR" E o que os fãs podem esperar de seu show aqui em Passo Fundo?
Erasmo ?EUR" Muito amor, e rock?EUR(TM)n?EUR(TM)roll. E se tiver frio, melhor ainda, pois as pessoas vão se esquentar! Um show pra ir de peito aberto, esquecer os problemas todos da vida e se divertir, passar bons momentos, dando e recebendo amor!

*Colaborou Marina de Campos

Serviço
Erasmo Carlos
4/10/2012 (quinta-feira), 21h
Gran Palazzo, Passo Fundo
Portões abertos a partir das 20h; estacionamento no local
Ingressos antecipados (2º lote) por R$ 60 no Velvet Bar, loja Indiada e jornal O Nacional
Informações e reservas de mesa: (54) 3045-1714; (54) 9966-8639

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