Cada passo-fundense deveria ter em sua história uma professora como Dalva Bisognin. Foi essa a sensação que ela deixou na abertura da 26ª Feira do Livro de Passo Fundo: quem teve a sorte de ser seu aluno sentiu saudades, e quem não foi ficou invejando a ideia de ter sido. Eloquente e divertida, sábia em sua sinceridade e até mesmo doce em sua força determinada, ela recebeu grandes homenagens e foi citada em todos os discursos da cerimônia, roubando completamente a cena.
Escolhida como Educadora Emérita desta edição pelas várias décadas dedicadas ao ensino, a professora revelou um bom humor quase inacreditável, mostrando que às vezes a arte de educar se vale de qualidades que menos se imagina. “Falar de 40 anos de trabalho é difícil, mas eu consegui resumir em 10 páginas!”, iniciou ela, de imediato arrancando risadas da plateia. “E acreditem, foi tão difícil quanto organizar uma feira”, continuou, fazendo referência aos muitos anos que passou à frente das Feiras do Livro de Passo Fundo como coordenadora ao lado da também professora Mariane Loch Sbeghen.
Ao relembrar sua trajetória, emocionou o público. “Inicio como meus pais que me deram o gosto pela leitura, meus irmãos que estão aqui, minhas filhas, minhas netas com quem compartilho tanta coisa”, observou. “Comecei em Tapejara, vim pra Passo Fundo, passei por escolas como Cecy, IE e Conceição, onde tenho o maior orgulho de ter feito a Mostra das Etnias, que, me desculpe o Paulo Dutra, mas aquele era o verdadeiro Festival de Folclore!”, disparou, para nova onda de risadas. “Ele tentou copiar mas não conseguiu”, ainda acrescentou, provocando o mestre de cerimônias da abertura, que iniciou por volta das 10h na praça Marechal Floriano com a apresentação do Coral da UPF.
Num misto perfeito entre emoção e bom humor, encerrou seu curto discurso de forma certeira. “O que eu tenho pra dizer a vocês é: tudo vale a pena quando a alma não é pequena, e a minha é até maior que esse meu corpão de bailarina espanhola!”. Como não desejar ter uma professora assim, tão sábia, espontânea e engraçada? Após receber das mãos da livreira Laura Santana o troféu da Feira, imaginou que seu momento havia terminado, mas são deixou de ser o assunto principal do início ao fim da cerimônia.
Além da menção da presidente da Associação dos Livreiros de Passo Fundo Vânia Grazziotin, o patrono fez questão de lembrá-la. “Estou muito emocionado de estar aqui, mas prometi a Dalva que não ia chorar!”, afirmou Carlos Urbim. Depois de contar um pouco da sua relação com a cidade e sugerir a criação de um prêmio de literatura infantil durante as Jornadinhas Literárias, encerrou sua participação com dois poemas em homenagem a Erico Veríssimo e Mario Quintana.
Na sequência, todas as autoridades presentes reverenciaram Dalva de alguma maneira, entre elas o deputado Diógenes Basegio e a presidente da Liga Feminina de Combate ao Câncer Neli Terezinha Formigheri, representando o CACC, escolhido Amigo do Livro desta edição. “Que bom que Passo Fundo tem pessoas assim, quase visionárias, que com inteligência e garra concretizam o fato de sermos Capital Nacional da Literatura”, afirmou o reitor da Universidade de Passo Fundo, José Carlos Carles de Souza. “A nossa Feira do Livro tem para sempre a marca da professora Dalva”, sentenciou o prefeito Airton Dipp, oferecendo à educadora o mérito pelo sucesso do evento ao longo de suas 26 edições.
Mas um dos discursos tocou Dalva especialmente. Ao relembrar sua trajetória, o deputado estadual e prefeito eleito Luciano Azevedo falou com o carinho de um aluno. “Seu trabalho transformou para melhor a vida de milhares de pessoas, que hoje estão com uma vida familiar bem estruturada, são bem sucedidas em suas profissões e devem boa parte disso aos seus conselhos e à sua dedicação”, afirmou. “Essa é uma homenagem do coração, por isso quero te dar um abraço apertado, o abraço que nesse momento Passo Fundo inteira quer te dar”. Visivelmente emocionada, ela foi até o centro do palco e recebeu um abraço carregado de carinho e admiração, transmitindo mesmo toda a gratidão de uma cidade a uma grande educadora como Dalva Bisognin.
A abertura foi dela
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