Carlos Urbim é uma daquelas pessoas que tem inegável jeito com as crianças. Os cabelos grisalhos penteados para cima não enganam: como costumam dizer, é um homem com alma de guri. A fitinha azul da feira amarrada no pulso direito e os óculos redondos de aro verde dão pistas, mas é quando ele começa a falar que logo se tem certeza. Conta histórias de sua infância com a naturalidade de uma verdadeira criança, como se falasse de acontecimentos recentes, e assim conquista o público infantil aonde quer que vá. Não foi diferente no primeiro dia da 26ª Feira do Livro de Passo Fundo, da qual é patrono e onde realizou um bate-papo com a plateia na tarde quente deste sábado, 3 de novembro. Primeira atração do evento, a conversa contou com a presença de crianças e jovens do Colégio Tiradentes, e também de vários adultos interessados nessa dádiva de conseguir conversar com alunos, filhos e netos de igual para igual.
Para começar, o jornalista falou de sua própria infância em Sant’Ana do Livramento. “Lá é muito legal pois, de um lado da praça se fala português, e do outro se fala espanhol. Isso me fascinava quando eu era criança!”, recordou. Formado em Jornalismo pela UFRGS e com uma carreira de mais de 30 anos na profissão, atuando em veículos da capital gaúcha, Urbim partiu para a carreira de escritor após o nascimento de seus dois filhos.
Autor de dezenas de livros infanto-juvenis, entre eles Uma Graça de Traça, Caderno de Temas, Diário de um Guri, Saco de Brinquedos e Álbum de Figurinhas, ele comentou que, quando era mais novo, tinha pavor da ideia de ter filhos. “Eu dizia ‘Deus me livre!’, jamais eu vou ter. Eu achava os bebês chatos, chorando o tempo inteiro, e bem nojentos, pois estavam o tempo todo fazendo cacaca e vomitando leite no colo dos outros”, brincou o escritor, para diversão da plateia. “Acontece que eu acabei me apaixonando e tendo dois filhos, e foi graças a eles que descobri esse gosto por contar histórias. Descobri também que quando se trata do nosso filho, nada é chato nem nojento, tudo é maravilhoso”. Ele lembrou de como escreveu seu primeiro livro, ainda em 1984.
“Eu sou daltônico, então quando criança vivia confundindo as cores, era um problema para me vestir pois às vezes saía feito um palhaço! Então, lembrando das minhas próprias aventuras, escrevi Um Guri Daltônico”. Ao responder uma pergunta do público sobre como era o processo de escrita de seus livros, ele lembrou de outro título, chamado Bolacha Maria. “Comecei a me lembrar do tempo em que ia na vendinha com um cruzeiro e saía de lá com dez bolachas maria, que eram muito saborosas”, conta Urbim, que fez o livro no formato da bolacha. “Gostei da ideia, a gente vê o livro e dá vontade de dar uma mordida!”.
Apesar do forte calor na tarde de sábado, Carlos Urbim se dedicou inteiramente às crianças, caminhando, gesticulando e se divertindo bem próximo à plateia, dispensando a cadeira no meio do palco e ficando no chão, junto com os demais. Após a sua especial participação no evento, a feira ainda teve apresentações de dança, contações de histórias e um bate-papo musical com Adelar Bertussi, lançando o livro Irmãos Bertussi - Coração Gaúcho. A 26ª Feira do Livro segue até o próximo domingo, dia 11 de novembro, sempre das 9h às 21h.
A tarde do patrono
· 2 min de leitura