Do alto da perna de pau, Gustavo sente medo. Logo esse sentimento é vencido por uma dose de coragem e um pouco de entusiasmo. Adrenalina e emoção. Experimentar coisas novas, para o garoto, é o desafio de uma vida, ainda curta. Vendo um mundo de um jeito um pouco diferente, Gustavo se diverte e aprende, desde já, que arte não tem limite.
A oportunidade, para Gustavo, surgiu em meio a um corredor repleto de literatura. A 26ª Feira do Livro de Passo Fundo, que traz o tema da mudança, mudou a vida e a perspectiva de Gustavo através de uma oficina de perna de pau, ministrada pelo grupo Timbre de Galo. “É tão bom poder disseminar isso para as crianças. A gente às vezes não sabe, mas num grupo sempre tem 2 ou 3 que gostam e têm talento, mas não têm a oportunidade”, destaca Rodrigo Vilanova, ator e responsável pela oficina da tarde de ontem. Vilanova iniciou na dança tradicional, permaneceu no teatro e desenvolveu diferentes habilidades. Por isso, aposta na arte como um apoio para crianças e adolescentes: “Através da arte se tem a oportunidade de abrir um portal de incentivo. É preciso dar a oportunidade de as crianças aprenderem e a perna de pau, uma das linguagens do teatro de rua, ajuda nesse sentido”, afirma. Rodrigo sempre pertenceu à arte, Gustavo recém a conheceu.
Ao subir, o menino despertou a curiosidade de outros pequenos que, assim como ele, queriam estar no alto. No meio dos amigos, ele os encoraja: “É bem divertido! O único problema é que é muito pesada, mas, se pudesse, eu faria de novo. É legal aprender coisas novas”. Nem tão novas assim, Gustavo: a história da perna de pau iniciou, no Brasil, no século XIX, com o surgimento dos primeiros circos e, além de lazer, é um instrumento utilizado para formação e ensino de Educação Física, como estimulador da expressão artística de quem adere à prática. Quanto ao funcionamento, a simplicidade impera. Rodrigo destaca a diferença da perna de pau profissional para aquelas que povoaram a infância dos anos 90 – as profissionais primam pela segurança e facilitam o equilíbrio. “É como andar de bicicleta: repete o movimento e busca se equilibrar”, comenta o professor.
Com 11 anos, Gustavo, estudante do Colégio Arco Verde, teve a experiência de conhecer, aprender e compreender uma nova visão da arte e, na Feira do Livro, pelo menos para ele, a perna de pau ficou longe do estigma dos campos de futebol e assumiu a magia da lona de circo.