Um quinteto responsável por guardar um segredo. Não é um novo filme, mas poderia ser. A banda Papas da Língua foi formada há quase 20 anos, lá em 1993, e sobrevive, desde então, com a verdade da música. “Queríamos mostrar a nossa verdade artística, enfrentar as nuances do mercado, insistir na nossa vontade”, conta Léo Henkin, o guitarrista e compositor da banda. Sim, Léo... A verdade artística de Papas é, também, a verdade artística daqueles que veem com sensibilidade o contexto da vida. E é esse o segredo: cantar a verdade. Papas, em Democracy, em Eu Sei ou em Disco Rock, transpira a verdade e a conduz pelas cordas da guitarra de Léo e pela voz de Moah.
Além de Moah e Léo, Papas é, também, Zé Natalio, Fernando Pezão e Cau Netto. Os cinco, desde o início, mantém a essência da banda. Do Blues ao Rock inglês, Papas fez seu estilo, conquistou seu espaço e consolidou sua verdade. O último trabalho, Bloco de Rua traz o colorido como elemento principal de estímulo às sonoridades. E para divulgar justamente esse último trabalho, a banda se apresentou em Passo Fundo na noite de ontem. O Segundo conversou com Léo Henkin e, abaixo, ele conta um pouco da estrada e do momento atual da banda.
Segundo ON: O Papas da Língua é uma banda que tem uma estrada de quase duas décadas. Quais os principais indicadores da maturidade da banda?
Léo Henkin: O Papas é uma banda pop e quem conhece o nosso repertório sabe que ele abrange um espectro amplo. Assim, há baladas, rock, pop rock, pop reggae, etc. As influências que moldaram nossas primeiras canções estão presentes até hoje, mas é claro que novas influências foram aparecendo ao longo do caminho, pois o mundo anda e se modifica, e a humanidade produz arte renovada sistematicamente e isto nos instiga e influi indiretamente em nossa música. Acho que o principal fator que indica a maturidade e a consolidação da nossa carreira é que estamos aí, com sete discos e dois dvds lançados, e esse era o objetivo inicial, quando formamos a banda, ou seja, fazer história dentro da música brasileira.
Segundo ON: Qual a proposta do novo trabalho da banda, “Bloco na Rua”? Como foi preparado e pensado? O resultado final atingiu o que a mente inspirou?
Léo Henkin: O projeto do cd e dvd "Bloco na Rua" foi concebido com a ideia de fazer um registro ao vivo da banda. O conceito que buscamos foi um show dançante, colorido e pop em sua em sua concepção visual. Ensaiamos vários meses com esse intuito, buscando o repertório apropriado, escolhendo canções novas, inéditas e também regravações de alguns hits antigos. Conversamos muito com o diretor de arte para que ele imprimisse esse conceito na realização do dvd. Pedimos a ele que criasse conteúdos gráficos para cada canção. Esses conteúdos foram projetados em telões e eram parte essencial do cenário. Pedimos também uma direção dinâmica, com bastante movimento de câmera. Foi primordial termos conversado bastante e chegado num conceito único, coeso. Assim atingimos o que desejávamos plenamente.
Segundo ON: Como aconteceu a escolha dos convidados do DVD? E como foram as parcerias?
Léo Henkin: Convidamos o Buchecha para participar da gravação da música "Pingos de amor". É um artista que sempre admiramos e uma pessoa sensacional. Fizemos o arranjo pensando nas características artísticas dele e o resultado foi certeiro. A outra participação foi a Tati, da banda Chimarruts, nossos amigos desde muito tempo. Ela participou de "Oba oba", pois a letra da canção era propícia para um dueto homem/mulher. Também foi uma escolha muito acertada, não só pela qualidade artística da Tati, mas pelo seu carisma e presença de palco.
Segundo ON: Quais as músicas que, ao longo da carreira, marcaram a história da banda, ou de cada um, e por quê?
Léo Henkin: "Democracy", pois foi a primeira canção que fizemos e a primeira que ganhou as rádios. "Blusinha Branca", pois virou um hit e marcou, lá em 1999, uma nova fase pro Papas, quando nosso público aumentou muito e consolidou nossa presença nos três estados do sul do Brasil.. "Eu Sei", obviamente, que nos projetou pro Brasil e até pra outros países (Portugal, Argentina, França, EUA, Uruguai...); "Vem prá Cá", que também entrou na trilha sonora de uma novela das oito... São muitas!
Segundo ON: Papas da Língua é uma banda gaúcha que já ultrapassou o limite do Rio Grande do Sul há muito tempo. Já participou de Planeta Atlântida, tocou ao lado de outras bandas também consagradas e já foi trilha de novela das oito. Como foi lidar com tudo isso com o passar do tempo e quais as táticas usadas para conquistar o espaço?
Léo Henkin: O fato de termos construído nossa carreira aos poucos, passo a passo, foi fundamental para nos dar equilíbrio e maturidade para lidar com os sucessos e percalços que fazem parte da trajetória de qualquer artista. É claro que foi preciso ter a certeza de que queríamos fazer essa música que fazemos, ou seja, queríamos mostrar a nossa verdade artística, enfrentar as nuances do mercado, insistir na nossa vontade. Isso é fundamental para qualquer artista. Cada vez que um obstáculo aparece, devemos nos lembrar de tudo que fizemos e construímos, devemos olhar para o lado e ver que temos um público imenso que nos acompanha há muito tempo, e outro que vamos ganhando a cada dia. Isso nos deu e dá a certeza de que nossa música faz parte da vida de milhares de pessoas, é um patrimônio que adquirimos ao longo do tempo e cujo valor é inestimável. As táticas usadas são um bom planejamento da carreira, saber analisar o momento com lucidez, trabalhar com persistência sempre e fazer uma música verdadeira.
Segundo ON: Em um contexto onde o sertanejo universitário dominou as rádios, como vocês avaliam o espaço para a música pop e como criam alternativas pra se sobressair desse cenário musical?
Léo Henkin: O espaço para a música pop que fazemos diminuiu nos últimos anos. mas isso não é novidade, e acontece de tempos em tempos. Aí temos que manter a calma, continuar trabalhando e descobrir novos meios de divulgar nossas músicas, novos meios de nos relacionarmos com o público, com as mídias e tudo mais. O mundo está mudando nesse sentido, estamos vivendo essa mudança, e, por isso, as velhas formas tradicionais estão ficando pra trás em certo sentido. É hora de buscar alternativas.