Foram 13 anos de dedicação à causa maior das Jornadas Literárias: a formação de leitores intérpretes das múltiplas linguagens. Foram 13 anos auxiliando a coordenação das Jornadas na seleção e convite dos participantes, autores renomados da literatura brasileira e estrangeira. E 13 anos de interação entre os convidados e o público que lotava o Circo da Cultura. Entre discussões profundas sobre educação, arte, cultura e tecnologia, traços do bom humor do escritor e dramaturgo Alcione Araújo davam o tom festivo e informal da Jornada de Literatura de Passo Fundo, um dos maiores eventos literários da América Latina, que ele ajudou a constituir.
Alcione Araújo, falecido no dia 15 de novembro, será homenageado pelo público passo-fundense na próxima quinta-feira, 6 de dezembro. Ele será lembrado com uma programação essencialmente artística, de aproximação entre a educação e a cultura, justamente o que ele mais buscava. Em 2011, ao descrever a Jornada, Alcione mencionava justamente esse diferencial: “Sem badalação, mas num clima de festa e congraçamento, realiza-se um sonho que persigo há anos: a reaproximação da educação e da cultura, rompendo a esquizofrênica separação que vem empobrecendo a cultura e a educação”, dizia.
Como coordenador de debates da Jornada ao lado de Ignácio de Loyola Brandão e Luciana Savaget, Alcione Araújo demonstrava seu amor à leitura, à literatura e às artes em todas as suas intervenções. Ciente da importância dessa intermediação, demonstrava seu sentimento pelo evento em todas as manifestações. “Percebi a importância desse papel de debatedor quando me dei conta que fazemos a mediação entre o tema e a plateia. E essa plateia nos toma como referência, não porque somos mais inteligentes ou mais cultos, mas porque temos uma relação afetiva, um carinho pelos anos de participação nas Jornadas”, disse em 2011, ao gravar seu depoimento para o documentário da Jornada comemorativo aos 30 anos da manifestação cultural.
Sua memória da primeira vez que esteve em Passo Fundo, em 1999, também era compartilhada em tom de congraçamento com o movimento que o aguardava. “Em 1999 cheguei em Porto Alegre e ainda faltavam mais quatro horas pra chegar em Passo Fundo. Eu pensei: - Meu Deus! As pessoas vão discutir literatura no fim do mundo! Mas daí entrei naquela lona e me impressionei. Foi um impacto fortíssimo de ver aquela quantidade de gente. As pessoas sérias, prestando realmente atenção. Isso mexeu com a minha cabeça”, relatava.
Na opinião da idealizadora e coordenadora das Jornadas Literárias, professora Tania Rösing, o legado deixado por Alcione é imenso. “Fica a insistência do filósofo, em sua voz grave na necessária integração da educação e da cultura nos estudos literários, uma vez que não se pode ler literatura, não se pode apreciar literatura fora desse contexto. Fica a seriedade de quem se engajou nas Jornadas junto a Ignácio de Loyola, com o compromisso de preencher os debates com manifestações interculturais, interdisciplinares e plenas de humor, respaldadas pela erudição que o caracterizava e, assim, enriquecia cada fala. Fica a lição do compromisso permanente em contribuir com a constituição do tema, com a seleção dos subtemas, com a indicação dos autores, com a sugestão das dinâmicas juntamente com Loyola. Fica o legado da amizade”, avalia.
Leitura de textos
“Porque sob o céu de lona, em vez de estrelas, brilham as metáforas sobre o homem, a vida, a sociedade e o mundo”. São textos como este, escrito por Alcione Araújo, que servirão como base para a homenagem que a comissão organizadora das Jornadas e os grupos artísticos e culturais de Passo Fundo e região usarão para homenageá-lo. Além destes, serão lidos depoimentos de outros autores sobre a participação de Alcione nas Jornadas.
O evento será realizado no Quiosque de Leitura Roberto Pirovano Zanatta, junto à Praça do Hospital da Cidade, em Passo Fundo, no dia 6 de dezembro, a partir das 17h30min. Toda a comunidade é convidada a participar.
Jornada presta homenagem à Alcione Araújo
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