Homenagem a Alcione Araújo reuniu escritores, leitores e amigos

Evento foi promovido pela equipe das Jornadas Literárias de Passo Fundo

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Uma praça e palavras jogadas ao vento. Assim, ao gosto de Alcione Araújo, escritores, leitores e amigos do coordenador das Jornadas Literárias despediram-se, pela última vez. A voz grave de Alcione ganhou novos tons, sons e texturas. Pela boca de quem admira o trabalho de Alcione, textos trouxeram memórias e lembranças de alguém que dedicou a vida à arte.

Depois de lidos, ganharam o céu, simbolizados por pombas que foram soltas. A sensibilidade que sai de suas palavras sempre foi capaz de ultrapassar qualquer fronteira. Desta vez, de forma concreta seus textos atingiram novos horizontes.

A homenagem, preparada pela equipe das Jornadas Literárias de Passo Fundo, aconteceu no fim da tarde de ontem. Ao mesmo tempo em que o sol deixava o céu, a voz de quem esteve na Praça do Hospital da Cidade entoava momentos de Alcione. Saudade. O clima foi, resumidamente, esse - uma saudade boa, daquilo que não se esquece.

Por Eliana Yunes
Alcione, querido... Os que cremos na vida, na potencia humana de dar continuidade à criação do mundo, os que temos esperança na palavra e abraçamos o mundo como se fora um filho, somos homens de fé, ainda que não professemos religião alguma. Ao longo de nosso convívio, entendi como você cultivava a fé através da continuada dedicação ao pensamento e ao gesto que, partilhados, podem qualificar a condição humana. Sei que este seu coração segue compartindo conosco não mais apenas o desejo, mas agora a realização do bem comum que tanto defendeu entre nós. Paz e alegria!

Por Marta Morais da Costa
“É sempre o tempo que muda umas coisas noutras. Somos, na verdade, uma construção do tempo. Até nos aspectos mais prosaicos. O tempo sob a dobra da ruga, o tempo sob a vista que falha, o tempo sob a fragilidade, a instabilidade, a senilidade. O tempo sob o desenlace.”

Ao escrever essas palavras, Alcione então não disse que o tempo também constrói, sob a permanente aproximação do fim, as alegrias da vida. A amizade entre elas. Ao amigo, que se dizia um mistério por ser humano, e que enfrentou, tão cedo, o mistério maior, agradeço a alegria da amizade. Um presente de alta estima, agora sem tempo, sem desenlace.

Por Lucia Jurema Figueirôa
Querido Alcione, Estava em Hong Kong e resolvi saber noticias do Brasil. Qual foi minha surpresa, susto ao ler que você tinha nos deixado? Como assim? Não quis acreditar, entrei no Google e comecei a ler o que os nossos amigos estavam escrevendo sobre você... Devagarinho comecei a acreditar que era verdade. Como Alcione gostava muito das palavras de Santo Agostinho penso que ele gostaria de ter dito: “A morte não é nada. A morte não é nada. Eu somente passei para o outro lado do caminho... Eu sou eu, você são vocês. O que eu era para vocês, eu continuarei sendo. Me deem o nome que vocês sempre me deram, falem comigo como vocês sempre fizeram. Vocês continuam vivendo no mundo das criaturas, eu estou vivendo no mundo do Criador. Não utilizem um tom solene ou triste, continuem a rir daquilo que nos faria rir juntos. Rezem, sorriam, pensem em mim. Rezem por mim. Que meu nome seja pronunciado como sempre foi, sem ênfase de nenhum tipo. Sem nenhum traço de tristeza. A vida significa tudo o que ela sempre significou, o fio não foi cortado. Porque eu estaria fora de seus pensamentos, agora que estou apenas fora de suas vistas ? Eu não estou longe, apenas estou do outro lado do caminho... “

Por Luciana Savaget
Alcione você é, porque estará sempre no presente, um empinador de pipas, daquelas bem coloridas, que voam de um lado ao outro, livres como as gaivotas do seu mar do Leblon.  Elas quase alcançam as nuvens. Você foi mais rápido e alcançou o céu. Você sabe também, como ninguém empinar as palavras, saltear as letras e sabe com sua voz grave de barítono, embaralhar as letras: u, a, s, a, d, e, d, da palavra: saudade!

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