O avião pousou, Madonna está no Brasil. Não, não deve ser fácil ser Madonna. Não quando um país inteira espera a sua vinda. Não quando estádios ficam lotados esperando a sua presença. Bobagem minha. O trono é dela. De Britney à Gaga, entre Katy Perry e Rihanna é a rainha quem permanece. Em uma época onde a democracia é aclamada, Madonna prova que a monarquia pode ser bem interessante.
O palco, dentro do Estádio Olímpico, está montado. Madonna se apresenta em Porto Alegre na noite de domingo. Uma semana cheia pela frente não é impedimento para que milhares de pessoas se desloquem de diferentes cantos do estado e se reúnem em um só local. Porto Alegre espera por Madonna. João Vicente, também. Ele tem 20 anos, é de Santa Bárbara do Sul, mora em Passo Fundo e viaja a Porto Alegre no final de semana. “Quando soube que ia acontecer o show em Porto Alegre eu só pensei: Pronto, eu vou”, conta. Junto com Carolina, começou a peregrinação em busca de ingressos.
A oportunidade de escolher o lugar de onde assistir a rainha durou pouco e só para quem teve sorte. O sistema de vendas pela internet ficou sobrecarregado e os ingressos logo se acabaram. João e Carolina conseguiram a pista. Pagaram R$360 cada um. A intenção da dupla é sair da cidade no inicio da tarde, chegar na capital, dormir no hotel, acordar, ir para a fila, garimpar um bom lugar e esperar. Para quem esperou anos, algumas horas em pé são o paraíso. O investimento, ao todo, gira em torno de R$600. Vale a pena, João? “Nossa. Se eu gastasse esse dinheiro com outra coisa, não ia ter valor. Se eu comprasse um computador ou um celular, não ia ter valor. O show é algo que eu quero desde sempre! Se eu tivesse mais dinheiro, eu pagava mais, sim”.
Madonna é muito mais que uma cantora. É um ícone, um símbolo, um significado próprio. É um conceito. Conceito de mulher, de época, de história, de reinvenção. Sim, esse é o diferencial de Madonna: ela se reinventa, mas não se perde. Ela poderia ter perdido o trono para Britney ou Gaga – porque, não se pode negar, ambas têm ou tiveram algum talento para chegar onde estão, ainda que precariamente. Mas não, ela não perdeu. Pelo contrário: Madonna prova, a cada nota, que é ela quem manda. “Quando descobri o que ela representa sendo ícone feminista, eu percebi o quanto ela é importante. Madonna, dentro do gênero dela, sempre ditou os caminhos da música pop”, comenta João. Ele destaca, ainda, o pioneirismo da cantora: “Ela está na ponteira há muitos anos, não só de uma indústria, como de uma ideia. Sempre achei que pelo lugar que ela ocupa, ela é muito humilde e aí ela me ganhou”, conclui.
Carolina não é tão fã quanto João, mas deve à ela a construção dos ídolos que cultiva. “A partir do que ela construiu muitos dos artistas que hoje fazem sucesso construíram suas carreiras. Muita coisa que eu gosto tem muito da essência, da sensualidade e da batida da Madonna”, comenta. O respeito que nutre pela Rainha do Pop é o que move a empreitada rumo ao show. Madonna é o marco de uma geração, e a origem de muitas outras.
Vem dela, também, a coragem de ousar. A ousadia em Madonna é reinventada. O corpo, o som, a voz, a luz – tudo exige coragem para quem faz e para quem acompanha. “Ela exibe o corpo, expõe a imagem dela e não faz isso vulgarizando ou perdendo o valor da imagem, mas sim, dando o direito de a mulher poder fazer isso. E a sensualidade não está ali por acaso. A sensualidade prova, junto com a música, junto com a luz, junto com a dança, junto com a fala, uma mensagem que não é banal”, declara João. De fato, nada em Madonna é por acaso.
Madonna tem 54 anos, 30 de carreira e uma coroa. Quem ainda duvidar, Madonna responde – na música, na performance, na energia, na coragem. O circo montado por ela permanece impenetrável. Ela que, um dia, foi sinônimo de transgressão, já não assusta. Mas surpreende.