Entre contos e memórias

Lançamento do final de semana, ?sltima chamada, do escritor Nilson May faz uma retrospectiva da própria história

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O que não fica guardado, se perde. O que não atinge a forma concreta, flui pelo espaço. O que não se torna tangível, ainda que na intangibilidade da mente, de nada tem valia. Tudo o que ganha as páginas, permanece. O que ganha significação na palavra, dura. O que se sente, ganha a mente, a imaginação, a vida.

Ao anoitecer de quinta-feira, mais um livro ganhou as prateleiras e as mãos de ávidos leitores. De encontro aos conceitos acima, Nilson May, médico do Sistema Unimed e escritor, lançou uma coletânea dos contos que escreveu ao longo da carreira. “Eu escrevo para tornar duradouro aquilo que é efêmero”, comentou May. Efêmero, para ele, é tudo o que não pode ser guardado na memória e, por isso, merece ter um lugar entre as páginas. Última chamada é, segundo o próprio autor, um lugar onde está tudo guardado – os textos e as memórias.

São pequenos ou grandes contos sobre diferentes temas: não, não há uma linearidade. Ou melhor, há: a linearidade consiste na vontade de publicar. “Não há nada mais velho que o jornal de ontem. Minha intenção é única e simplesmente juntar tudo o que escrevi”, comenta. Em suma, o livro se trata de uma antologia de contos selecionados pelo autor – sendo que alguns já forma publicados anteriormente, mas mereceram uma nova edição. “Eles iriam se perder, quis publicar de novo”, conclui.

Nilson May faz da literatura uma casa. Médico por profissão, escritor por gosto. É, atualmente, o presidente da Federação Rio-Grandense da Unimed. Escreve, desde 1970, para revistas literárias e críticas. Em 1980 foi premiado no concurso Apesul como Revelação Literária e, em Última Chamada, completou 11 publicações. Em 1999, ganhou o Troféu Amigo do Livro. Ocupa a cadeira nº 7 da Academia Sul-Rio-Grandense de Medicina. Nilson é, antes de tudo, um amante da literatura.

Autor de romances como Céus de Pindorama – que recria o cenário do descobrimento do Brasil – e Misterioso Caso na Repartição Pública – que ousadamente se passa na ditadura militar, no ano de 1968 – Nilson se aventura em diferentes formatos: além de romances, ele já escreveu livro de contos – Inquéritos em preto-e-branco - e crônicas – A Máquina dos Sonhos. Sua obra encantou Juremir Machado da Silva que, ao ler os originais de May, enfatizou: “Nilson tem literatura nas veias, desnudando o absurdo vivido no cotidiano por homens condenados à própria existência”.

Nilson faz com que seus personagens fujam da realidade dura e inflexível e busquem alternativas para sobreviverem à própria efemeridade da vida. Ironicamente, é isso que ele busca: fugir da efemeridade da vida e deixar que ao menos algumas memórias possam ganhar as páginas, ganhar a vida, ganhar a realidade. Ou ganhar da realidade.

 

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