Previsível do início ao fim, o longa – que tem oito indicações ao Oscar – é, na verdade, uma mostra do que Jennifer Lawrence e Bradley Cooper são capazes de fazer. A história – adaptada do livro de Matthew Quick – não é um grande atrativo e a edição não a torna melhor. Cabe, então, aos chamados “atores de sua geração” o papel de fazer o público ficar de olhos no filme até o momento dos créditos.
Um homem traído e bipolar. Uma mulher inconformada com a morte do marido. O homem, depois de quase matar o amante da esposa, é enviado a um hospital psiquiátrico. A mulher, depois de perceber que o marido não voltaria, se transforma em uma maníaca sexual. Ele perde esposa e emprego e, depois de oito meses internado, decide reconquistar a vida antiga. Ela, também desempregada, vê na dança uma forma de distração e sanidade. Ambos, de formas distintas, buscam por soluções que possam fazer a vida andar de uma maneira um pouco menos dolorida. A história de cada personagem busca no drama uma forma de tocar o público. Raramente consegue.
A primeira meia hora de filme é maçante. Não empolga e não acende o desejo de ver os outros 90 minutos. Ainda sem a presença de Jennifer em cena, Cooper mergulha em um drama psicótico que se foca muito mais na relação familiar – sempre aos gritos e aos pulos – do que na busca por uma continuidade ao filme.
Quando os olhos azuis de Tifanny (Jennifer Lawrence) ganham a tela, as coisas mudam. Ela se torna a dona do filme. Partem dela as sacadas mais inteligentes e engraçadas. É por ela que o expectador continua ali. Sim, porque se continuasse mergulhado na depressão de Pat Solitano, sem qualquer reviravolta, a única emoção a sentir seria a pena – não do ator que embarca numa atuação realista e expressiva, mas por estar em um barco que não tem nenhum destino estabelecido. O filme é feito pela dupla: sozinhos, Cooper ou Lawrence não conseguiriam. A química entre os personagens flui de uma forma que o clichê, que acontece do início ao fim, acaba não tornando o filme ruim. Ele apenas não é bom ou digno de oito indicações.
David O. Russel, diretor do longa, é também um ponto positivo. Ele dá espaço para que os atores cresçam e desenvolvam os personagens como queiram. Pat e Tifanny crescem graças a Russel. Para ele a indicação é merecida – mesmo que não leve a estatueta, já que Spielberg está na disputa. Merecidas, também, são as indicações para Jennifer Lawrence e Bradley Cooper. Ela lidera, ao lado de Naomi Watts, as apostas.
Se há alguma explicação, ela vem com o fim do filme. São os minutos finais que dão sentido ao alarde feito em torno do longa. Tudo é extremamente previsível, mas as cenas onde o casal dança, por exemplo, são capazes de fazer o público torcer por algo. Como numa espécie de Pequena Miss Sunshine, Pat e Tifanny encontram, juntos, uma forma de lidar com a própria loucura.
Não é realmente um candidato ao Oscar e, talvez, só esteja lá para preencher a vaga dos filmes independentes, mas, ainda assim, se você aguentar a primeira meia hora, o restante se torna agradável e, até, leve. Se ainda assim, não te agradar, curta a trilha sonora que vai de Steve Wonder a Bob Dylan.