Nem Lincoln, nem Spielberg

Em uma disputa acirrada, Oscar premia o esperado e o surpreendente

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O previsível desfilou no tapete vermelho. Quase atrasado, o surpreendente também. Em um ano atípico, onde o Oscar distribuiu premiações entre 12 longas, a premiação, que foi, em grande parte, justa, agradou todo mundo. Ou quase.

A dobradinha, melhor diretor-melhor filme, não aconteceu. A desculpa à Ben Affleck veio com uma estatueta. Se o que faltava para consagrar Jennifer Lawrence como “A” atriz de sua geração era uma grande premiação, não falta mais. E o prêmio de melhor longa de animação provou que as princesas realmente mudaram.

Com direito à piadas constrangedoras por parte do apresentador da edição, Seth MacFarlane, e tombo de Jennifer Lawrence, que tropeçou na cauda do vestido ao subir no palco para receber a estatueta de melhor atriz, o Oscar de 2013 foi uma homenagem a músicas de filmes. Exagerada nas intervenções – que homenagearam Chicago, por exemplo e 007, que completa 50 anos – a premiação foi longa e, por vezes, cansativa. Ainda assim, não perdeu o brilho.

Melhor filme

Entre os indicados para a principal categoria do Oscar, Lincoln estava na liderança. Com 12 indicações era, de fato, o favorito. Mas jogo é jogo e, assim como no futebol, o Oscar provou que favoritismo significa pouca coisa.

Nas últimas semanas, Argo, de Ben Affleck, engoliu premiações – começou pelo Globo de Ouro de Melhor Filme em Drama e passando pelo BAFTA – Oscar Britânico. Arrecadou, ainda, o Critics Choice Award, o Directors Guild (Melhor Diretor), o Producers Guild (Melhor Produtor), o Screen Actors Guild (Melhor Elenco), além dos prêmios dos críticos da Flórida, de San Diego e de Southeastern. Ainda, foi eleito o melhor diretor do ano pelo Sindicato dos Diretores dos Estados Unidos. Se a crítica o aplaudiu, o público fez isso em pé: foram mais de US$ 200 milhões arrecadados nas bilheterias de todo o mundo. Um detalhe: o longa foi produzido com um orçamento que corresponde a menos de um quarto desse valor.

Engoliu, na noite de domingo, o Oscar. Deixou para trás Lincoln, que não é a melhor produção de Spielberg, Pi, o menino que vive em um barco com um tigre, e O Lado Bom da Vida, que se mostrou mais uma comédia romântica. E, pela terceira vez em 85 anos, o Oscar de melhor filme foi para um longa cujo diretor não estava nem mesmo nos indicados.  Um pedido de desculpas, justo, já que Affleck vem se revelando com um dos diretores mais ousados e competentes do cenário atual.

Além de melhor filme, Argo levou para casa as estatuetas de melhor roteiro adaptado e de melhor edição – três das sete categorias em que estava indicado. Ainda assim, não foi o mais premiado da noite.

E o Oscar de melhor diretor vai para... Ang Lee!

Tudo bem que Lincoln não é o melhor filme da carreira de Spielberg, mas Spielberg continua sendo Spielberg e a crítica já havia colocado nas mãos do diretor a estatueta. Mas então, eis que a surpresa da noite invade o palco: Ang Lee escanteou Spielberg e levou para casa, por As Aventuras de Pi, o Oscar de melhor diretor. Isso faz de Lee um dos diretores, fora do território americano, mais bem sucedidos de Hollywood. Das 11 indicações que recebeu, levou, além de melhor direção, outras três - fotografia, trilha sonora e efeitos visuais – e foi o maior vencedor da noite.

Surpresas à parte, verdade seja dita: Ang Lee fez quase que mágica para dar veracidade à história de Pi: tecnologia e criatividade foram os ingredientes da conquista.

Quarteto esperado

Melhores ator e atriz e melhores ator e atrizes coadjuvantes, categorias mais previsíveis da noite, deram a estatueta a quem, de fato, mereceu. Quando indicada por sua atuação em Os Miseráveis, Anne Heathaway era a preferida. E continua sendo: levou para casa a estatueta de melhor atriz coadjuvante. Intensa, a personagem ganhou vida e é, talvez, a melhor atuação de Anne. No discurso ela desejou que avida de sua personagem, nas ruas francesas em uma revolução, deixasse de fazer parte do cotidiano contemporâneo.

Christoph Waltz levou o prêmio de melhor ator coadjuvante por seu personagem em Django Livre – longa que levou, ainda, a estatueta de melhor roteiro original. Jennifer Lawrence, de O Lado Bom da Vida, conquistou o Oscar de melhor atriz – merecido já que é ela a responsável pela qualidade do longa. E Daniel Day Lewis entrou para a história: se tornou o primeiro ator a ganhar três estatuetas na categoria principal.

Das princesas, da música e do empate!

Há algum tempo os contos de fada ganharam a cultura contemporânea. Das séries ao cinema, as princesas ganharam uma nova forma de serem vistas. E o Oscar vem provar isso: a estatueta de melhor animação foi para Valente, que conta a história de Merida, uma princesa ruiva que foge do casamento arrumado e procura pela liberdade. A animação competia a liderança das apostas com Detona Ralph. A princesa levou a melhor.

Adele levou para casa, como já se esperava, a estatueta de melhor canção por seu trabalho com Skyfall, para o último 007. A canção é intensa e encaixa no filme na hora certa. Adele mereceu. Ainda, a cantora foi a protagonista de um dos mais emocionantes momentos da noite ao interpretar, ao vivo, o motivo do prêmio.

Ao lado de melhor direção, a categoria edição de som foi a surpresa da noite. A Hora Mais Escura e 007 Skyfall empataram e ambos levaram para a casa a estatueta. Em 82 anos, é a sexta vez que o empate ganha o palco da premiação.

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