Dezessete anos de música, histórias para contar e uma estrada um tanto longa. Gadiego Carraro é contrabaixista, compositor e arranjador. Formado pela Universidade de Passo Fundo e mestrando em contrabaixo acústico pela Universidade Federal de Goiás percorre o país e o exterior para mostrar seu trabalho. “Iniciei meus estudos musicais aos 16 anos de idade”, conta o músico. De lá pra cá, a formação se ampliou e, hoje, sua pesquisa está voltada para o diálogo da música erudita – música de concerto – com a música popular – MPB, Jazz e música sul latina. Ele destaca ainda que se volta, especialmente, para os desdobramentos e entrelaçamentos do estilo, sendo o contrabaixo o fio condutor.”
Músico por vocação, não opta, simplesmente, pela intuição. O estudo da arte é o que norteia o artista. E é justamente isso que o diferencia. A música, por si só, argumenta com o público e convence. Além do trabalho solo está, hoje, ao lado de Nery Borges, realizando o projeto Duo Influências. A intenção é explorar diferentes estéticas musicais, partindo da experiência de palco de cada um. São exploradas obras do repertório clássico de concerto, MPB e Jazz, além de ritmos típicos do Brasil, Argentina e Uruguai, que ganham uma característica própria quando interpretados dentro do projeto.
Ainda, Gadiego gravou, em 2010, o disco Influências que o levou à Europa. No ano seguinte, lançou o livro Música na educação – contrabaixo e bossa: uma perspectiva histórica e prática. Ao aliar estudo e musicalidade, Gadiego apresenta qualidade e verdade a quem o ouve.
O trabalho o leva, nesta noite, à Academia Passo-Fundense de Letras. O projeto Duo Influências é parte do momento cultural proposto pela APL na Sessão Solene desta segunda-feira. Aberta à comunidade, a sessão apresentará a programação do Jubileu de Diamante da Academia e, também, o lançamento oficial do 5º Concurso Literário que, neste ano, traz Moacyr Scliar como homenageado. E, encerrando a noite, a professora Marília Mattos irá receber o “Mérito Cultural Sante Uberto Barbieri”. Depois da ordem do dia, é a vez do Duo. A música, na sua forma mais pura. Em entrevista ao Segundo ele explica um pouco mais sobre a carreira e sobre os projetos que desenvolve.
Segundo: A música que você desenvolve é fundamentada em estudo. Há algum tipo de influência e/ou inspiração para o trabalho realizado?
Gadiego: A música que procuro pesquisar e desenvolver atualmente e que fazemos também neste trabalho com o Duo Influências, está voltada a elucidar o caráter erudito da música, valorizando seu caráter artístico. Interpretamos uma música que é feita para ser ouvida e apreciada procurando em levar este tipo de arte musical para diferentes níveis culturais e localidades do país, sejam elas pequenas ou grandes cidades, para isso basta que haja algum tipo de interesse por parte deste locais. Enfim queremos educar musicalmente e promover a diversidade cultural, por isso nossos recitais e concertos são sempre comentados, para que o público interaja pergunte quando necessário e a gente possa contribuir com o público esclarecendo na prática, algumas questões importantes, como por exemplo: o que é música barroca ou clássica, o que caracteriza o jazz e a MPB, que elementos estão presentes na música contemporânea, enfim o que compõem cada gênero musical e como eles dialogam entre si.
Segundo: Especificamente falando do Recital em Duo, como surgiu a parceria entre você e o Nery?
Gadiego: A ideia do Duo surge pelo interesse comum que temos na difusão e divulgação da música como objeto artístico, também pelo fato de cursarmos o mestrado na mesma instituição. O duo Influências é uma mescla de tudo que vivemos musicalmente até hoje, da música popular a música erudita, além de ser muito forte o fato da música regional nativista, por ambos sermos gaúchos.
Segundo: Pessoalmente, qual é o diferencial colocado na música?
Gadiego: O diferencial que colocamos em nossa música está no respeito e o amor com que tratamos a nossa arte, por isso temos uma vida dedicada à música e ao estudo e pesquisa dela, fato que pode ser observado no refinamento técnico e artístico que procuramos dar a música que fazemos, isso com certeza reflete positivamente no resultado sonoro deste trabalho. Vivemos um momento cultural não muito apropriado para a música chamada erudita, instrumental ou cultural, o que fazemos e estudar todo dia com seriedade a música e a performance dela, procurando adquirir cada vez mais perícia no instrumento e conhecimento da linguagem musical em tudo que interpretamos.
Segundo: O diferencial está, inclusive, nos instrumentos. Como funciona cada um e qual a intenção dele dentro da sua opção musical?
Gadiego: Estamos atuando em duo, com contrabaixo acústico que muita gente confunde com o violoncelo, mas que na realidade faz parte da família das cordas (violino/viola/violoncelo/contrabaixo) e é o instrumento de maior porte desta família, seu surgimento remonta o início do século XVI e pode ser tocado com os dedos diretamente nas cordas e também através da utilização do arco que proporciona uma sonoridade muito refinada e diversa. O violão é um instrumento mais conhecido popularmente e neste contexto transita entre o sotaque erudito com que é empregado na música de concerto ao caráter de acompanhamento e improvisativo da música popular. A combinação de ambos proporciona uma sonoridade equilibrada e doce, tornando o diálogo camerístico destes instrumentos muito agradável de ser ouvido.
Segundo: E, por fim, qual a importância de tocar num evento como esse que a APL está promovendo e que dá início a uma série de comemorações na Capital da Literatura?
Gadiego: É sempre importante fazermos eventos como esse que objetivam difundir a cultura, valorizando pessoas e ações que promovam algum tipo de ganho intelectual e cultural a sociedade. Devido a recentemente também me arriscar na carreira de escritor, tive a oportunidade de conhecer melhor a associação e de observar como a APL vem trabalhando de maneira significativa para o fortalecimento da cultura na cidade de Passo Fundo primando sempre por uma sociedade mais justa e com maior elevação cultural e intelectual, o que me deixa muito orgulhoso. Apesar de estar fora da cidade já há algum tempo e por ser natural daqui, evidentemente que tenho um enorme apreço por esta cidade e o meu desejo é de sempre contribuir de alguma forma para que tenhamos uma cidade melhor em todos os sentidos, inclusive culturalmente. Parabenizo a atual gestão da APL em nome do presidente Sr. Osvandré Lech e espero que seja a primeira de muitas ações conjuntas que ainda faremos.