Um ano sem Millôr Fernandes

Foi em 2012. No fim de março, Millôr deixava este mundo. Sua obra, no entanto, permanece no hall das mais importantes da história

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Há um ano, a notícia chegou. Millôr Fernandes partira. Se foi, sem um adeus, sem qualquer até logo. Se foi e deixou parte de si – nas páginas, no traço, no desenho, na crônica. O jornalismo e as artes gráficas muito ganharam com o homem que tinha a caneta como melhor amiga. É, simplesmente, universal. Sua palavra – seu sentimento – encaixam, combinam e referenciam. São dele, mas nos pertencem, porque nos refletem.

Ele nasceu em 1923, no subúrbio do Rio de Janeiro. Nasceu Milton Viola Fernandes. A letra da mãe na certidão de nascimento confundia: Milton ou Millôr? O tempo o tornou Millôr. Esse mesmo tempo é o responsável pela obra de Millôr: em 1934 a chegada dos quadrinhos no Brasil o tornou um frequentador das bancas. A HQ tornou-se sua paixão. Através do jornalismo, publicando de pouco em pouco, Millôr fez seu nome.

Em 15 de março de 1938, deu o primeiro passo na carreira. Assumiu o ofício de repaginador em“O Cruzeiro”. No mesmo período, Millôr ganhou um concurso de contos na revista “A Cigarra” com o pseudônimo Notlim. Mais tarde, assumiu a direção da publicação e passou, então, a assinar os artigos. Textos e desenhos o tornam um chargista e cronista irônico e crítico.

Millôr foi, de fato, uma referência intelectual. Lutou contra a censura e foi um dos entusiastas da liberdade de imprensa. Em 1963, escreveu um artigo, "A Verdadeira História do Paraíso", criticado pela Igreja Católica. Deixou, então, a revista e lançou, em 1964, a publicação quinzenal “O Pif-Paf”. Quinze anos mais tarde, ainda com o país sob a ditadura militar, a revista seria apontada como o ponto inicial da imprensa alternativa no Brasil pelo serviço de informações do Exército. Referência cultural, ele continua sendo.

 Ao lado de Tarso de Castro, atuou, também, em O Pasquim, principal jornal na luta contra a ditadura militar. Assumiu a editoria do jornal a partir de novembro de 1970 - mês em que a redação inteira foi presa por publicar uma sátira do quadro “Independência ou Morte”. Liberados no ano seguinte, os jornalistas começavam a alcançar a liberdade. Por fim, em 1975, Millôr deixou "O Pasquim" após escrever o editorial de número 300. O título, "Sem censura", anunciava o conteúdo: o cartunista informava ao leitor que desde 24 de março daquele ano o jornal estava, finalmente, livre da censura prévia. O fim do texto, no entanto, avisava: "sem censura não quer dizer com liberdade".

Grande cartunista, humorista, dramaturgo, escritor, tradutor. Millôr foi de tudo um pouco. Deixou sua marca na sua obra e na história do Brasil. Sua luta, contra a censura, garantiu a liberdade – a sua e a de grande parte da população brasileira. 

Depois de muito fazer, Millôr morreu em casa, no Rio. Falência múltipla dos órgãos e parada cardíaca o tiraram daqui. Ainda assim, ele permanece.

"E lá vou eu de novo, sem freio nem pára-quedas. Saiam da frente, ou debaixo que, se não estou radioativo, muito menos estou radiopassivo. Muita gente, eu sei, preferiria que eu fosse um humorista morto, mas isso virá a seu tempo. Eles não perdem por esperar”. (Millôr Fernandes)

 

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