Voz, violão e sentimento

Conhece o Café com Música? E o Mateus Chaves? O guri e seu projeto mostram que Passo Fundo tem muito a oferecer

Por
· 3 min de leitura
Você prefere ouvir essa matéria?
A- A+

Ele tem 20 anos. É, ainda, um guri. O que carrega, no entanto, tem peso: voz, um violão e muita história. Mateus Chaves, acadêmico do sétimo semestre de Licenciatura Plena em Música, na UPF, é apaixonado por música desde muito cedo. Hoje, o sentimento – que era um hobby ou uma maneira de passar o tempo – virou profissão. Percorrendo um caminho que, aos poucos, é trilhado, Mateus não tem mais opção: sempre em frente. A música que faz não o deixa voltar.

E ele nem quer. A opção pelo curso não aconteceu a toa. Ao que parece, há uma espécie de destino, ou ainda, vocação. Ainda criança, aos cinco anos, o primeiro contato: um violão. “Desde lá a música se tornou parte do meu dia-a-dia, e foi, também cedo, que me dei conta que a música ia me acompanhar pra sempre”, comenta. A ideia amadureceu e se concretizou: depois de quinze anos ele já tem uma estrada.

Além de estudar, Mateus trabalha com a educação musical - tanto particular, quanto em projetos realizados e em escolas da rede municipal de ensino. Ainda arranja tempo para os projetos pessoais que, segundo ele, são focados em música popular brasileira. Violão, bandolim e canto, sozinho ou acompanhado. A forma ou o instrumento não importam. Importa a música.

Um desses projetos pessoas surgiu ao lado de outros dois amigos. Rock, MPB, reggae e três guris com o mesmo nome: Chaves no violão, voz e guitarra; Pasquali no baixo e Moresco na bateria. Os três passaram a ser Matheus ao Cubo³. “A ideia surgiu de conversas no corredor da Faculdade de Artes e Comunicação! Não é sempre que se juntam três "Matheuses" (eu sem "h", no caso, mas foi voto vencido) músicos em uma mesma sala de aula com um gosto musical muito próximo”, ele conta. A intenção do grupo é “animação, energia, através da música brasileira”. Ao que tudo indica, deu certo.

No tempo que sobra, há espaço, ainda, para o Café com Música. “Como todo bom projeto, também saiu de uma conversa entre amigos”, inicia. A proposta é simples: duas horas de música em uma noite de sábado em um café. “O amor, tanto pelo café, como pela música, deu corpo a ideia, e os proprietários da Prawer, Adler e Ilana, abraçaram a ideia com todo o carinho”, declara.  O projeto acontece das 19h às 21h na Prawer, localizada no 3º andar do Bella Cittá Shopping Center. A primeira edição garantiu a continuidade e, neste sábado, Mateus estará lá.

Entre Chico, Caetano, Tom e Lenine, ao cantar, Mateus relata a própria história da música do país. A influência do repertório vem de casa e se consolida no estudo: “o gosto se tornou mais forte quando, para estudar harmonias um pouco mais complexas do que as que eu tocava ali pelos meus 14/15 anos. Procurei Garota de Ipanema e Wave, do Tom... nem preciso dizer, caminho sem volta!” Maria Gadú, Jorge Ben e Tim Maia também estão entre os nomes do repertório.

Independente do repertório, é o sentimento que Mateus passa, ao cantar, que torna verdade o que a voz entoa. “Na verdade, quando eu toco, eu não consigo pensar noutra coisa senão no que o compositor sentia na hora de escrever”, comenta. “É fechando o olho na hora de tocar que a gente consegue vivenciar e entrar naquela composição, e, consequentemente, passar para as pessoas exatamente o que a música precisa passar”. O diferencial do música está aí. Além da voz, o sentimento é o que conduz a canção. “Cantar sem sentir é o que torna a música meramente comercial e mesquinha, e é por essa ganância e comercialização da arte que a nossa cultura está definhando”, critica.

Quanto ao cenário musical, o guri, depois de ver e participar de tantas histórias cujo personagem principal foi, justamente a música, acredita que há melhorias: “acredito e defendo a música como um dos caminhos para uma educação de qualidade e para uma sociedade mais culta e organizada”, inicia. Ele complementa fazendo uma análise dos currículos escolares e da participação da musica nestes: “qualquer país de primeiro mundo tem a música como currículo básico nas escolas, e o Brasil havia perdido isto na época da ditadura; agora, que ela voltou às escolas, cabe ao povo brasileiro incentivar o estudo e a apreciação musical desde cedo” e conclui: “É comprovado que ela melhora e desenvolve não só a atenção e aprendizagem, bem como auxilia na cidadania e desenvolvimento humano das pessoas”.

E é o sentimento, esse que Mateus tanto cita, que faz da música um instrumento de transformação. “Ela não só é capaz de transformar, como a música é transformação”, enfatiza o músico. Através da música, não apenas para quem faz, mas para quem aprecia, realidades podem ser modificadas. Mateus vai ao encontro desta ideia: “é uma forma de tornar audível a alma e o coração. É só pensar, a quantas músicas tu consegue atribuir situações e fases da tua vida? Quantos músicos e/ou bandas fizeram e fazem parte de ti?”, questiona.

De fato, não há, hoje, alguém que não tenha uma história com a música. Passo Fundo, por exemplo, desde muito cedo é o berço de artistas que veem na cidade uma oportunidade de crescimento. Mateus é mais um desses frutos. 

Gostou? Compartilhe