Esqueça tudo que você sabe sobre teatro: um palco, cenário montado, plateia sentada em silêncio só apreciando o espetáculo. Para o grupo porto-alegrense Mosaico Cultural, fazer teatro é encontrar o público.
No domingo (7), quem passou pela praça do Boqueirão Legal deixou de ser espectador e se tornou protagonista da história. O espetáculo “Corsários Inversos – uma incrível aventura pirata” fez um convite a atracar em um universo de imagens e sensações, tudo materializado na poesia. A peça conta a história de três piratas que buscam um valioso tesouro: o segredo por trás das palavras. Desbravadores da poesia e da percepção que navegam pelas almas, circulam pelos becos, resignificando os objetos do cotidiano, saqueando a emoção e a sensibilidade como moedas de troca.
O teatro é um trabalho que iniciou há sete anos veio de apenas uma cena:alguém da plateia é “salvo” e convidado a ir ao palco enquanto um poema é declamado em seu ouvido. Surgiu, então, um espetáculo que busca tirar o espectador da sua cadeira e transformá-lo no personagem da história. “O que a gente fez foi encontrar os indivíduos no meio da multidão e aí começou o trabalho.A encenação busca, não só que a plateia faça junto o espetáculo, mas que ela interprete um personagem”, comenta Rafa Cambará, ator do espetáculo.
Em meio a poemas, músicas e histórias, o objetivo da peça de concretiza: o público sorri, opina, canta e dança, numa manifestação de como deve ser a arte do teatro. Talvez o maior desafio do teatro seja justamente esse, aproximar artista e público. Para o ator, de todas as artes, o teatro foi a única que ficou para trás, que ficou presa à forma antiga de se fazer: “e hoje o que o público quer é participar de tudo. As pessoas deixam de ir no teatro porque tem essa relação de “olha o que vim fazer” e não uma coisa que a gente vai fazer junto”, afirma.
Falta de incentivo não é. O grupo se apresenta de graça por onde vai através do Prêmio Myriam Muniz, da Fundação Nacional de Artes, conquistado no final do ano passado. Inocência talvez, em achar que as pessoas não querem participar. “Hoje as pessoas se relacionam e tocam em todas as coisas que estão na sua mão”, lembra Rafa. Por que não, então, transformar o teatro em algo palpável? Falta ousar. Ousar e enfrentar os medos que isso provoca. Artista ou público, não importa. É preciso ter em mente que o teatro é feito de gente. “E gente, é pra brilhar.”