Compositor de MPB. Carioca. Poeta. Sensível e entregue. Vinícius de Moraes foi um dos homens que conseguiu falar do mais íntimo do ser humano. No ano de seu centenário, as homenagens não cessam. Uma delas acontece no palco do Teatro do Sesc, nesse sábado, às 20h. Wagner & Cia realiza o espetáculo “Vinícius”, um misto de música e poesia que relembra e remonta a vida e obra do poeta cujo coração ainda é capaz de transmitir poesia.
O Segundo Caderno traz, hoje, uma entrevista com Cláudio Wagner, idealizador do projeto, e conta para o leitor o processo de ensaio e produção do espetáculo.
Como foi a produção e o desafio de escolher uma parte da obra para ser o norte do show de hoje?
Para mim é um prazer e uma diversão elaborar e produzir um show sobre Vinícius de Moraes. Primeiro porque sempre ouvi as músicas e poesias de Vinícius na minha infância e adolescência, e não é a primeira vez que trabalho num espetáculo sobre Vinícius. Já fiz isto quando existia a Cia de Espetáculos da Universidade de Passo Fundo, dirigida pelo Pietérson Duderstat com qual contribuí para realizar o roteiro do espetáculo naquela ocasião e como é o oitavo show que participo vou ganhando experiência na produção e na montagem do show, tanto pelo aspecto artístico como de produção executiva.
Tudo começou com um hobby. Hoje já é um segundo trabalho. Ao entrar no palco, o que sente?
Eu diria que é um hobby, mas é realizado com extremo profissionalismo. A cada ano eu penso e lanço um novo projeto e vou agregando pessoas, profissionais da música que me acompanham e que se sentem desafiados a tocar o projeto adiante. Quanto ao “frio na barriga” no momento de subir no palco ele sempre acontece, mas isto faz parte do processo e acredito que seja um sinal de responsabilidade, mas à medida que o espetáculo vai acontecendo o frio vai desaparecendo aos poucos e vai ficando uma sensação somente de prazer e realização por isso que tem saído um a cada ano novamente.
A obra de Vinicius de Moraes é imensa, e a cada leitura é quase que uma missão impossível excluir ou filtrar o que será apresentado ao público, como foi a escolha do repertório para o show?
A escolha é muito pessoal. Eu incluo sempre aquelas músicas que mais gostava e que ainda gosto, mas estou sempre escutando e acatando as sugestões das pessoas que trabalham comigo. Tem aquelas músicas que têm poesias no meio como “Para viver um grande amor” e “Testamento” que considero diferentes do que se vê por aí, além da música tem a mensagem da poesia. Os clássicos como “Garota de Ipanema” e “Eu sei que vou te amar” nunca podem faltar entre outras.
A música brasileira aquela que fala da paixão, da morte, da existência do ser humano parece ter sido esquecida, qual o motivo de navegar na contramão dos modismos que arrastam multidões?
As músicas e as letras do Vinícius são mais profundas, falam de amor e paixão, falam sobre a brevidade da vida, falam sobre a morte. Embora ele tenha escrito muitos sambas, a música de Vinícius não é uma música para “alegrar” as pessoas nem fazer com que elas saiam “pulando”. O motivo de fazer Vinícius é porque eu gosto do gênero da Bossa Nova, do Samba. É algo pessoal.
A Wagner & Cia chega ao seu oitavo show, se comparada a tendência cultural no Brasil é uma raridade chegar a essa longevidade, a que se deve esse tempo?
Na verdade este show do Vinícius é o oitavo que eu participo diretamente. O primeiro espetáculo que eu participei foi através da Cia de Espetáculos da UPF onde participei na elaboração do roteiro, na voz e nas poesias do Espetáculo “Vinícius falando de música e poesia”. A ideia foi minha, mas a realização foi da UPF. Posteriormente eu fiquei um tempo sem realizar nada e depois eu retornei novamente quando o meu filho passou a tocar cavaquinho e desde então tenho feito um show por ano com diferentes grupos de músicos e artistas. Foi um show sobre Vinícius, três shows sobre “Bossa Nova”, um show somente de poesias “Alquimia Poética”, um sobre Chico Buarque e uma “Roda de Samba” com sambas de raiz e agora Vinícius novamente em função do centenário do poeta. A Wagner & Cia é na verdade uma brincadeira, mas é ao mesmo