“Quem são eles? Quem eles pensam que são?!” O trecho da música 3ª do Plural, composta por Humberto Gessinger - também compositor do tema da Jornada e convidado deste ano -, pode até soar agressivo no contexto de sua letra, mas aqui a ideia é exatamente o contrário. Pois o jovem é sempre uma grande incógnita, uma figura imprevisível, com uma maneira bastante pessoal de enxergar o mundo e a si próprio. A partir do tema “Leituras jovens do mundo”, a 15ª Jornada de Literatura se propõe a questionar: quem são os jovens de hoje? O que fazem? O que leem?
O que pensam sobre o mundo e o que pensam sobre si mesmos? Sim, pois eles pensam. E muito. Ao contrário do que muita gente está acostumada a sentenciar, a “juventude transviada” dos novos tempos comete basicamente os mesmos erros e faz essencialmente as mesmas besteiras que você quando era adolescente. Mas também reflete, questiona, se envolve, se informa, pergunta, responde e contra-argumenta, tudo de uma vez só. Talvez o que falte seja um pouco mais de atenção desde o começo, um pouco mais de respeito com toda essa opinião e bem mais perguntas sobre quem ele é do que discursos sobre quem deveria ser.
Felizmente é isso que faz a Jornada este ano. Outra vez sintonizada com o que acontece no país e no mundo, ela toma para si a missão de olhar para a juventude e, com os olhos dela, olhar para o mundo. Essa juventude problemática que por um lado é tema de debates sobre maioridade penal, mas que por outro foi admirada e exaltada como a grande protagonista das manifestações de junho em todo Brasil. O que isso pode querer dizer? Que o jovem é um paradoxo, como é o adulto, a criança e o velho - o ser humano, afinal? Que é uma metamorfose ambulante, que um não é igual ao outro, que são todos iguais?
É possível que mesmo em cinco dias de discussão quase ininterrupta a Jornada não chegue a conclusão nenhuma. Tanto faz: o que interessa aqui é a pergunta, a dúvida, a polêmica, o conflito, a luz no fim do túnel que se acende quando alguém para e, honestamente, se esforça pra tentar entender.
Debates
Mas por onde se começa a tentar entender a mente de um jovem? Talvez pelo seu corpo. Na primeira tarde de discussões no palco de debates da Jornada, na quarta-feira, o tema é Corpo, sexualidade e afeto. Três mulheres - a psicanalista Diana Corso, a sexóloga Laura Müller e a antropóloga Mirian Goldenberg - conversam sobre um dos pilares fundamentais da juventude, aquele responsável por tantos prazeres e por tantos problemas. A conferência da noite versa sobre O jovem da ficção à telenovela, contando para isso com Walcyr Carrasco, um expert não apenas em novelas, mas em jovens, já que é conhecido também como autor de literatura juvenil.
Na quinta à tarde o assunto é Trabalho, autonomia e consumo, outro conjunto de pilares nessa época de transição. A busca por independência, a responsabilidade financeira, a decisão de seguir uma carreira e outros tópicos são abordados pelos renomados escritores José Castello, Marcelino Freire e Roberto DaMatta. À noite é a vez do brasileiro Nelson Pretto, o italiano Massimo Canevacci, o português J. A. Furtado e o espanhol Cesar Coll promoverem uma “mini Babel” na conferência a quatro vozes sobre convergência das mídias. O assunto já vem sendo debatido desde a edição de 2009, e faz ainda mais sentido dessa vez, ao refletir sobre um ser 24 horas conectado em todas as mídias possíveis. O debate continua na sexta-feira, ainda mais específico, com o painel Faces na Rede. Dele participam a jovem poeta Bruna Beber, o apresentador Vinicius Campos, o escritor e roteirista João Alegria e o popular psiquiatra Jairo Bouer, o que promete visões partidas de diferentes áreas.
A última conferência noturna fala de Narrativas transmidiais (aquelas que se desenrolam por meio de múltiplos canais de mídia, cada um deles contribuindo de forma distinta para a compreensão do universo narrativo), com a presença do escritor de literatura fantástica André Vianco, a jornalista (e filha de Nelson Rodrigues) Sonia Rodrigues, e o autor e ilustrador Guto Lins. O assunto na tarde de sábado gira em torno do lugar que o jovem mais gosta depois do seu próprio quarto: a rua. No debate intitulado A leitura das ruas, conversam com o público o mexicano Alejandro Reyes, o poeta e ativista Sérgio Vaz e o rapper Emicida, que também faz o show de encerramento desta edição.
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