Ele não para. Entre novelas e livros, parece ser incansável. Você, certamente, já dedicou algum tempo da sua vida para a obra dele. Às seis ou às sete da noite, às onze ou, mais recentemente, no horário nobre, um pouco da mente dele se joga pela tela da televisão e invade, diretamente, a sua sala, a sua cozinha sua mente. Pela terceira vez em solo passo-fundense, Walcyr Carrasco foi o nome da noite de ontem no palco da 15ª Jornada Nacional de Literatura. A conferência - “O jovem da ficção à telenovela” – explorou a criatividade de Caruso e trouxe a ju-ventude para o centro de um debate que está longe de ter fim. Com uma vasta obra literária, especialmente juvenil, Walcyr está atualmente no horário nobre com a novela Amor à Vida. Na trama, o autor explora conceitos que, segundo ele, fogem de clichês e assumem uma faceta um tanto polêmica.
Drogas, homossexualismo, câncer, apelo sexual – o próprio cenário social escancara as portas e não pede licença para entrar. E se é assim no mundo concreto e real, tem que ser assim, também, no universo da ficção: “Faz parte da literatura trazer a realidade para dentro da ficção. O que eu trago para a ficção é um pedaço da realidade. Não existem estereótipos. O estereótipo acontece quando o politicamente correto é encarnado. A minha preocupação atual é que vivemos uma censura do politicamente correto e se eu resolvo falar de um grupo, no outro dia eu sou atacado. Se a novela consegue polemizar, acho importante. Que bom. O mundo não é um castelo de cristal”. A mesma censura – por vezes disfarçada – é enfrentada, também, pela literatura. Carrasco acredita que há uma pressão social direcionada ao prazer que a literatura traz. Nas escolas, por exemplo, somente livros indicados podem ser usados nas salas de aula. Indicados por quem?, ele “Se é pra passar uma mensagem, é melhor fazer uma conferência.
A ficção envolve e não tem a obrigação de ser objetiva, de passar uma mensagem. Livro não é remédio que precisa ser engolido a força. É preciso que exista o prazer de ler. E é esse prazer que justifica a existência do livro.” Persistente, a arte da ficção se esforça na luta contra a censura. E apesar de todo “não pode” e “não dá”, o mundo muda, se transforma, se reinventa. “O que a ficção faz? Olha para a juventude e tenta inseri-la em um contexto histórico. Acredito que estamos vivendo um momento de transformações. O mundo é extremamente rico e é interessante olhar para a juventude com um olhar crítico e inserido na história, ao mesmo tempo em que se percebe a emoção que o jovem carrega.” O problema é que estamos no centro da mudança e não conseguimos enxergar claramente toda a radicalidade da transformação. “É como se estivéssemos na Idade Média e estivesse surgindo o Renascimento. Essas mudanças vão dar origem a um futuro diferente. O que nós podemos fazer? Captar toda essa emoção.” Emoção. Talvez seja essa a palavra da noite.
O jovem é capaz de despertar e sentir emoções cujos nomes ainda são desconhecidos e é, justamente, por isso que não se pode classifica-lo, identifica-lo ou defini-lo. “Mais que dar informações sobre o jovem é a emoção quem permite retratar a juventude”. Depois de compreender isso, os olhos se voltam para a forma como isso é possível de se fazer. Para ele, a intuição vem em primeiro lugar. “O trabalho jornalístico, por exemplo, vem de fora para dentro. Você coleta informações e constrói uma matéria. O trabalho criativo é de dentro para fora. É um captar intuitivo. Há, sim, coleta de informações, mas não é um trabalho racional.” Esse trabalho, uma união de intuição e emoção, só é possível com paixão. Parece clichê, mas Carrasco garante que é simplesmente a verdade. “A pessoa precisa ter coragem de seguir sua paixão, de arriscar sua vida. É preciso gostar daquilo que faz, Quando o encanto é só pelo universo da fama, não tem como dar certo. O autor precisa ser um escritor. Precisa escrever tanto quanto precisa respirar.”