Inspirar-se, viajar por um mundo único e individual, colocar as fantasias no papel. Escrever um livro é um sonho que arrebata milhares de jovens pelo mundo a fora. E cada vez mais esse sonho se torna palpável e mais fácil de tornar-se realidade. Porém, o processo de escrever já não é mais o mesmo. Isso, segundo o crítico literário José Castello. Ele era um dos participantes do debate que aconteceu ontem, 29, na 15ª Jornada Nacional de Literatura. antropólogo e professor Roberto Damatta, ele discutiu o tema “Trabalho, autonomia e consumo”.
Para Castello, o mercado literário nunca foi tão forte, nunca se falou tanto de livro no Brasil. Contudo, “As pessoas, hoje, escrevem para quatro coisas: vender muito, ganhar prêmios, entrar para a lista de best sellers e ser traduzido para os Estados Unidos e para a Europa”, diz. A Jornada de Literatura de Passo Fundo, juntamente com os outros eventos literários, como as bienais, contribuem para o mercado da literatura, mas como um ponto forte. “O mercado literário nunca foi tão forte, não só pelas livrarias, mas também por eventos como este”, explica ele e acrescenta que a Jornada “é um caso à parte, tem uma identidade própria e por isso tem uma relação muito
próxima com a literatura.”
O escritor é um resistente
O gosto por escrever, por si só, já é um contraponto. Tornar esse gosto uma profissão é entrar em uma dissonância maior ainda. “Eu nunca vi uma mãe criar um fi lho para ser poeta, escritor. Mães criam fi lhos para ser médicos ou advogados”, explica Freire, contando: “em casa, eu era a fi gura que trabalhava na escrita, lia cartas, bulas de remédios e a Bíblia para a minha mãe. Então, eu comecei a ser respeitado por essa função que exercia. O meu gosto pela leitura salvou a minha família”, diz. Se por um lado o mercado cresce muito e por outro os escritores são a parte resistente nesse meio, “quem escreve é quem tem mais poder”, explica Damatta. Poder esse que é refl etido em tudo, até mesmo na política. “Quem escreve sobre nós são nossos representantes, os políticos”. A lógica do mercado é tornar tudo igual, é padronizar. Para Castello, “o papel do artista, do escritor, é fazer justamente o inverso, entrar em dissonância”.