A internet sem vida real não é nada

No terceiro debate da Jornada, autores de diferentes mídias falam de como se apropriam da rede na criação e divulgação de suas obras

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A rede derrubou os muros, abriu portas e deu espaço para quem quiser expor suas ideias, seus romances, poemas, contos, ou para quem quiser simplesmente contar sobre como foi o seu dia, suas conquistas, medos e angústias. Em apenas alguns cliques, uma jovem pode se transformar em uma poeta com obras publicadas em diversos pontos do mundo. Mas até quando escrever? Onde escrever? Para quem escrever? Por que escrever? Quando escrever? E, principalmente, existe um limite de exposição nas redes sociais?

Em tempos onde tudo acontece e se transforma na internet, o debate no penúltimo dia da 15ª Jornada Nacional de Literatura levantou os limites e as faces da rede de internet. Na discussão do tema, três autores de diferentes mídias, mas que se apropriam da rede para criação e divulgação de suas obras. Jairo Bouer, médico, psiquiatra, blogueiro, colunista e escritor. A jovem poeta Bruna Beber utilizou a rede para lançar para o mundo seus poemas. O ator, jornalista e escritor infanto-juvenil, Vinicius Campos é ligado 24 horas na rede, mas para escrever suas obras não abre mão de viver intensamente fora dela também.

A rede é solitária, assim como a rotina de um escritor. “Escrever nas redes sociais é muito semelhante à rotina de um escritor, que se isola em seu mundo para transmitir, através da sua obra, seus pensamentos, sofrimentos e ansiedades”, disse Campos.  Por outro lado, assim como em um bom livro, são as vivencias que enriquecem a rede. “Na frente de uma tela de computador, tudo se cria, mas antes da criação, o fato tem que acontecer, o escritor tem que conhecer pessoas, conversar, interagir. O conteúdo só existe se a vida de quem escreve existir de verdade. A internet sem vida real não é nada; é uma bobagem”, polemizou.

“Assim como sexo, drogas e álcool, o uso exagerado da rede pode fazer mal”. O psiquiatra Jairo Bouer afirma que o limite é o segredo e o desafio é sair, fazer o fato acontecer antes do registro na rede. Para ele, a rede é importante instrumento para conhecer pessoas, fazer amigos, namorar e até fazer sexo, mas é preciso que ela se torne uma aliada à vida real. “Naturalmente o ser humano precisa se comunicar, mas muitos têm dificuldades de relacionamento e a rede se tornou um importante recurso para estas pessoas. O que não pode acontecer é ocupar um espaço que não é real, apresentando uma versão melhorada de si mesmo, sua melhor foto, sua melhor frase. Expor o que não é real não é sadio para ninguém”, disse.

“Não dá para negar nem o livro nem a internet. Eles se complementam”. Bruna se popularizou através da rede, mas dá grande valor às páginas de seus livros. Através da internet fez contatos com escritores, buscou editoras e descobriu diferentes formas de publicar seus poemas. Eles estão publicados na Alemanha, Argentina, Espanha, Itália, México e Portugal. “Comecei escrevendo no meu blog, mas com o tempo vi que a rede me exigia demais e ela era mais importante como veículo de divulgação do meu trabalho. Hoje tenho uma vida offline mais intensa”, relatou.

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