Uma história do tamanho do Rio Grande

Segundo

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cada nova página, um pouco do mapa do Rio Grande do Sul é desenhado. Em cada novo personagem, toda uma nação é descrita. Em cada nova trama, o retrato da construção de uma identidade. Apesar da extensa obra, foi só em O Tempo e o Vento que Érico Veríssimo se realizou. Retratar 200 anos de história, em duas mil páginas e três volumes realizou Érico e o leitor, que sentiu-se inserido de um universo completo. Parte desse universo chega nessa sexta-feira às telas do Rio Grande. A história, que é do tamanho do estado, tem em sua gênese um dos grandes romances da literatura brasileira. Em casa, Érico pensou em tudo. Mapas, ruas das cidades cuja história narrava, personagens. Detalhadamente esmiuçou a vida; a de Capitão Rodrigo; a de Ana Terra; a de Bibiana. Do índio, do pai, do filho. Esmiuçou a guerra e a história. Uma parte de nós incutida em personagens e narrativas escritos há muito tempo, mas sempre atuais. O desafio de Jayme Monjardim, diretor do filme - e responsável pela direção da minisérie A Casa das Sete Mulheres - foi grande. Colocar 200 anos em duas horas de imagens exigiu um trabalho de preparação de sete anos. Antes das filmagens, o diretor mergulhou na história, viveu o enredo, tornou-se gaúcho. O livro apresenta um deslocamento temporal complexo e retratar isso através de frames exige atenção, cuidado e respeito com uma obra que retrata o verdadeiro romance histórico brasileiro.
Na tela, as narrativas de uma história que “o tempo não faz esquecer, a guerra não destrói e o vento não apaga”. Cada novo enlace surge do olhar de uma Bibiana centenária. Aproveitando-se de noites de vento, a nostalgia da sua própria história ganha corpo e voz. Como um protesto contra a morte, é da visão dela que a história é contada. Interpretada por Fernanda Montenegro, a personagem é carregada de intensidade, emoção e força. O recurso preserva a essência da poesia de Érico. Para a plateia funciona como um off, um companheiro constante – ainda que a história seja contada para um certo capitão Rodrigo e não para o público.
A direção de Jayme Monjardim aconteceu em parceria com a roteirista Leticia Wierzchowski - parceria que já havia realizado, anteriormente, A Casa das Sete Mulheres. Além dela, o escritor Tabajara Ruas completa o trio. Ao lado deles, 125 atores que deram vida às diferentes fases e gerações que o longa encena. Nos papeis centrais, Thiago Lacerda dá vida a Capitão Rodrigo, personagem capaz de reunir o coletivo masculino em um único rosto . Ana Terra, a representatividade da força feminina, é interpretada por Cléo Pires - em uma homenagem tocante à minisérie de 1985, que teve sua mãe, Glória Pires, interpretando a mesma pesonagem - e Suzana Pires. Marjorie Estiano, Janaína Kremer e Fernanda Montenegro emprestam corpo e voz para Bibiana. Pedro Missioneiro, o índio que, ao lado de Ana, dá origem a uma nova geração é interpretado pelo argentino Martín Rodriguez. Além deles, Paulo Goulart, José de Abreu, Vanessa Lóes e Rafael Cardoso também estão no elenco.
Antes de filmar, no entanto, ções de roteiro. A opção por não recortar nenhum episódio da história de Érico e, ainda, agregar a poesia e emoção que o autor carrega rejeitou a pressa. As filmagens, então, aconteceram em dois meses, e ocuparam as cidades de Pelotas, Candiota e, principalmente Bagé – palco da cidade cenográfica de Santa Fé. A última cena foi gravada em maio do ano passado. De lá para cá, o trabalho de montagem, edição e pós produção consumiu a equipe.
Ao todo o filme custou R$ 13 milhões. O orçamento envolveu o uso da melhor câmera da atualidade para captar e exibir imagens digitais e a produção com alta tecnologia de finalização. A trilha sonora que é – pelo que se percebe nos trailers – intensa e extremamente leve foi gravada pela Orquestra Sinfônica de Budapeste. Cada escolha, cada método, cada nova opção parece fazer de O Tempo e O Vento uma forte opção brasileira para concorrer ao Oscar de Filme Estrangeiro.
Nas páginas, O Tempo e o Vento é um dos maiores clássicos da literatura brasileira. A promessa é de que o longa siga o mesmo caminho. A equipe já declarou que não é um filme feito especialmente para gaúchos. Vai além disso. Retrata as lutas de um povo aguerrido, os sofrimentos de homens com o coração dividido entre o lar e a guerra, a fé de mulheres que aguardavam um resquício de paz e a força das escolhas que ajudaram, ao longo do tempo, a desenhar a identidade gaúcha. O filme estreia neste 20 de setembro, data em que o gaúcho volta os olhos para o passado. Na tela, quem sabe, reconheça a própria história que não se trata, apenas, de caráter político ou governamental, mas que interfere diretamente nos segmentos sociais estabelecidos desde a chegada dos primeiros homens que mais tarde seriam chamados de gaúchos.
Entre uma página e outra; entre uma cena e outra a história da formação do Rio Grande do Sul, a povoação do território brasileiro e a demarcação de fronteiras, conquistada com sangue e espada.

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