Lado A, lado B

Há alguns anos, o mercado do disco vem numa crescente que está, agora, em seu auge.

Por
· 4 min de leitura
Você prefere ouvir essa matéria?
A- A+

No meio de um amontoado de CD’s, a descoberta: esse não é o melhor som. Da descoberta nasceu a vontade de mergulhar num universo onde as ondas sonoras são puras. Rodrigo de Andrade, o Garras, precisou ver o toca-discos quebrado para então comprar outro , com uma qualidade maior. Quando experimentou um dos dicos da prateleira, a reação foi imediata: a coleção de CD’s foi vendida para que o dinheiro adquirido fosse investido na coleção de vinis. Hoje, anos depois, é um dos fundadores da 180 Selo Fonográfico que é, além de produtora, uma promessa no mercado musical.

Há alguns anos, o mercado do disco vem numa crescente que está, agora, em seu auge. Contrariando as apostas de que iria acabar, o disco se reinventou com o passar dos anos. Garras rejeita a ideia de que o vinil tenha “voltado”. “O vinil nunca acabou. Não existe o retorno do vinil. É um clichê jornalístico que está sendo usado há 15 anos. Nunca vai voltar a ser tão grande quanto era antigamente. É diferente. Houve uma mudança no mercado da música com a questão da música digital”, comenta. Essa mudança proporcionou uma nova forma de se relacionar com a música.

Aquilo que antes era palpável tornou-se um elemento de uma nuvem digital. O disco perdeu espaço para o CD que perdeu espaço para o download gratuito. Tudo isso ao invés de sufocar o vinil, o tornou mais valioso. “O vinil se tornou um artigo para quem é fã da música. Para quem senta para escutar a música. Não é a trilha sonora que tu ouve enquanto lava a louça ou faz faxina. É algo que tu para uma hora para escutar um disco, como se fosse ver um filme ou ler um livro”. A diferença entre consumir e apreciar música é o que faz envolve o vinil numa espécie de aura mística. “Pela facilidade do acesso à música, hoje todo mundo tem música em todo lugar. Todos estão ouvindo música e consomem música. Mas ser um apreciador de música envolve mais que isso. É se dedicar àquilo e saber entender uma estrutura musical da mesma forma que um leitor entende a estrutura de um romance de uma forma diferente que um leitor superficial”, enfatiza Garras.

No meio de toda a paixão pelo vinil - que veio da descoberta do som - e de todo o conhecimento - que veio do trabalho como jornalista - Garras enxergou a possibilidade de se inserir no mercado não apenas como consumidor, mas como produtor. E é aí que entra o Leonardo Marmitt. Juntos formaram a sociedade e dela surgiu a 180 Selo Fonográfico. “A ideia é de comprar e vender vinis novos e usados e lançar, também. No Brasil surgem vários selos independentes que começam como nós. O que a gente percebe na maioria deles é que se tenta diminuir custos em todas as etapas do processo produtivo. É muito caro”, comenta Garras. Eles decidiram fazer diferente. Ao invés de baixar custos, optaram por agregar qualidade e valor ao vinil. A proposta é simples: eles querem fazer os melhores discos do país. “Não adiantaria entrar em um mercado sem diferencial. E é isso que vai nos sustentar”, completa Leonardo.

O primeiro passo para encontrar a identidade da empresa foi decidir enviar os discos para serem prensados na maior fábrica de vinis do mundo: a GZ Vinyl, na República Tcheca é onde são produzidos, também, relançamentos dos Roling Stones e dos Beatles por exemplo. É referência no mundo. As principais gravadoras prensam ali. A diferença está no processo. O avanço tecnológico permitiu que o método de prensagem fosse diferente: em apenas cinco lugares do mundo, incluindo a GZ, se utiliza o DMM - Direct Metal Mastering. Enquanto as fábricas convencionais cortam o acetato com pequenos sulcos por onde corre a agulha- referentes às faixas do disco - e, em cima disso, produzem uma matriz de metal - matriz madre. Dessa matriz madre são feitas outras formas de um metal mais maleável e o vinil é feito a partir dessas formas.

Na GZ essas etapas são puladas. A tecnologia DMM permite que os sulcos já sejam cortados direto na forma de metal maleável. “É uma máquina de altíssima precisão que analisa a onda sonora por computador e faz o sulco perfeito para o tipo de sonoridade para aproveitar melhor a onda sonora” explica Garras. Todo o processo garante a fidelidade do som. As diferenças não param por aí: “A prensagem é de 180 gramas. É mais pesado e isso garante a qualidade de áudio. Colocamos mensagens escondidas. E, também, os lançamentos em LP têm um diferencial: além da tiragem em preto, mandamos fazer uma tiragem menor em colorido”. Tudo para agradar o colecionador.

Além da tiragem colorida, adicionaram o obbi - uma cinta de papel que envolve o disco e que contem todas as informações de gravadora, selo, tiragem e prensagem - e deixaram a capa limpa, apenas com a arte. . “Já que o legal é a arte grande, valorizamos isso e já se tornou a marca registrada do selo.”
O primeiro lançamento do Selo foi para a banda Cachorro Grande com o álbum Baixo Augusta. Garras conta que a banda sempre existiu na questão do vinil. Muito antes de lançar o vinil pela primeira vez - que aconteceu só no quinto álbum - eles sempre levantaram a bandeira do vinil. “Como eles sempre tiveram essa postura, quando eles apareceram caiu como uma luva”. Depois de lançado o disco, Garras e Leonardo foram para as lojas. “Os lojistas piraram. Todos os dias recebemos e-mails de artistas que querem lançar disco com a gente”. Ao que tudo indica a proposta - aquela de fazer os melhores discos do Brasil - tem um caminho pronto.

Gostou? Compartilhe