Coluna: Que voltem os zumbis

Por Fábio Rockenbach

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· 2 min de leitura
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É a produção de TV mais assistida de todos os tempos, e uma aposta ousada da AMC. The Walking Dead retorna para sua quarta temporada, nos Estados Unidos, neste domingo. No Brasil, o primeiro episódio chega com dois dias de atraso, terça-feira, na Fox Brasil. E já não era sem tempo. “30 Days without an Accident” abre a a nova temporada, e os teasers liberados nos últimos meses deixaram uma ótima impressão do que está por vir. Literalmente, o ambiente aparentemente seguro da prisão onde Rick e os demais sobreviventes alcançam um estilo de vida quase ideal em um mundo de caos vai cair. Isso é certo – as cenas de hordas de zumbis invadindo a prisão pipocam pelos vídeos liberados a conta gotas pela web.

O esquema das temporadas anteriores será mantido: metade dos 16 episódios será exibida em 2013 e a outra metade após um “recesso”, a partir de fevereiro.  Basta olhar para trás e lembrar que a primeira temporada teve 6 episódios apenas para termos uma noção de como os executivos da AMC consideravam temerária a proposta do produtor Frank Darabont (diretor de Um Sonho de Liberdade e À Espera de um Milagre). Criar uma série de terror com zumbis e cenas de suspense explícito, mesmo para a TV a cabo, não era exatamente uma ideia normal. Mas desde 2010, graças à série (nos quadrinhos e na TV), zumbis se tornaram parte da cultura pop – sofrendo, até mesmo, da desmistificação que atingiu outras criaturas que antes eram símbolo de medo, como os vampiros. The Walking Dead confirmou uma posição que filmes como “Extermínio”, de 8 anos antes, e “Terra dos Mortos”, do mestre George Romero, já sinalizavam.

Romero, aliás, é o grande responsável por criar o moderno mito do morto-vivo no cinema moderno, a partir de “A Noite dos Mortos Vivos”, em 1968. Mas zumbis nunca foram, para Romero, apenas terror pelo terror. Seus mortos que comem carne humana – isso, sim, foi novidade naquela época – sempre foram usados por Romero para uma profunda crítica social. No final do filme de 68, humanos brincam de tiro ao alvo com os mortos que andam. Na continuação, de 78, “Despertar dos Mortos”, zumbis invadem um shopping e caminham, abobalhados, pelos corredores, batendo a cara em vidraças de lojas e subindo e descendo elevadores sem ter rumo – um perfeito retrato da sociedade consumista nesses locais. Em “Terra dos Mortos”, humanos que sobreviveram ao holocausto zumbi se dividiram em castas. Os ricos e poderosos vivem no topo de imensos arranha-céus. Os pobres, se acotovelam no chão, em uma cidade cercada para impedir que os zumbis entrem. Lógico que eles entram e destroem a nova ordem social. Romero sempre foi genial nos seis filmes sobre o tema que ele fez.

O cinema moderno precisou de justificativas que fugissem do sobrenatural para “explicar” os zumbis – Romero também já fez uso desse expediente – e o normal, agora, é sempre culpar um vírus por tudo (vide “Extermínio” e “Guerra mundial Z”, entre outros). Mas o melhor terror ainda é aquele que evita as explicações e simplesmente investe o espectador em um clima de tensão crescente. The Walking Dead funciona, e muito bem, porque sabe construir esse clima de tensão, porém sem jamais esquecer de seus personagens. São seus dramas que motivam o público – além, claro, da expectativa de ataques dos zumbizões – e o fato de que o público sabe que a qualquer momento algum personagem importante pode dar adeus. Não com a mesma intensidade de “Guerra dos Tronos”, mas a série de George Martin é assunto para outra hora. Que volte Walking Dead. Já era hora...

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