Desde que os primeiros circos montavam, improvisadamente, suas lonas, ele está presente. Nos primeiros picadeiros, o riso da plateia se multiplicava na presença dele. Hoje ele não precisa de picadeiros, ainda que os use, porque sua arte se sustenta. E não precisa de muito: um nariz vermelho, sapatos grandes, uma roupa exagerada. Quando crianças, eles são os donos do nosso riso. Quando crescemos, tornam-se os donos de nossa admiração.
Por trás da maquiagem, uma história. Por trás de um riso, uma lembrança. O espetáculo No Tienes Clown, apresentado, na próxima quinta-feira, 18, pela Dia Indústria da Arte caminha, justamente,pelas lembranças de um palhaço. A cada cena, uma homenagem. Se fosse um trem, a peça percorre trilhos imaginários de uma ferrovia que se chama fama. Ultrapassa fronteiras, para onde quer, ganha atalhos e dispensa semáfaros. Percorre a arte e todas as suas vertentes através da vida de um palhaço que é mundialmente conhecido apenas... pela sua mãe. No palco, Felipe Lemos e Sini Tesser dão vida a história de um homem que tem no fracasso a sua maior obra de arte. Além da atuação, o texto e a produção é de Iussen Seelig, os figurinos e adereços de Lia Leite. Em 60 minutos, o teatro se enche de gargalhadas e lembranças. Mas não só isso.
O espetáculo No Tienes Clown foi concebido para se transformar a cada apresentação. Fruto da pesquisa de experimentação do trabalho do palhaço que a Dia desenvolve há 2 anos e meio junto à Universidde de Passo Fundo, a peça se faz de descobertas dos atores e público. Iussen Seelig comenta, também, que No Tienes Clown tem inspiração em diferentes artistas que usam do palhaço para expressar sua arte: “Produzido por talentos locais de Passo Fundo e região e principalmente por egressos do CST em Produção Cênica da UPF, o espetáculo teve várias inspirações de clowns e mestres palhaços que admiramos, mas principalmente é uma homenagem a esses artistas dos palcos e picadeiros e sua descoberta como artista, seus sucessos e principalmente seus fracassos”. O espetáculo é o retrato da própria Dia: além de fazer o teatro subir o palco, a companhia busca, também, a essência do artista através de pesquisa e estudo. “O espetáculo é também a nossa história enquanto grupo, a descoberta como atores e nossos desafios, dúvidas, medos e o confronto com os nossos ridículos”, comenta o produtor.
Justamente pelo caráter de estudo que a Dia tem, o espetáculo se torna diferente. Enquanto as comédias tradicionais convidam o público a rir com ela, o palhaço convida o público a rir dele e de sua humanidade. “É um espetáculo de palhaços... É uma comédia, mas nem só de risos e aplausos vive o artista da graça. Na verdade a graça para o público está na desgraça desse artista”, destaca Iussen. Além do diferencial do foco, o diferencial está nas mudanças ao longo das apresentações da peça. O público pôde assistir No Tienes Clown, pela primeira vez, no início de agosto. Na ocasião, o teatro estava lotado e o público recebeu a história de braços abertos. “É esse abraço que pretendemos retribuir a cidade que tanto nos abraça. Sempre tem mudanças na peça porque ela é como um circo que vamos acrescentado números e cenas está sempre em processo de mudança, para o público sempre ver algo novo”, conta Iussen.
Pesquisa corporal, estudo da arte, um mergulho no universo do palhaço. Toda a intensidade da preparação da Dia resultou em um espetáculo que capta a essência clown a joga para o público. Este, por sua vez, faz o que deseja. A interação é o segredo.