A honestidade é uma das características mais apreciáveis em um jogo. Não é o problema dele querer aparentar mais do que é ou se perder no meio de quinhentos comandos ou infinitos tutoriais. Quando algo mais complexo é feito com competência, a qualidade aparece de qualquer jeito, mas a objetividade e simplicidade merecem um destaque maior. Assim como um policial rabugento da velha guarda, Max Payne 3 vai direto ao ponto na maior cidade da América Latina. É mirar, atirar e avançar, sem mais frescuras.
A vida de Payne como policial em Nova York era tranquila e serena, até que vira uma história de vingança. Sua mulher e sua filha foram assassinadas por viciados e, como Charles Bronson em Desejo de Matar, Payne paga geral até os responsáveis irem para sete palmos abaixo do chão. No segundo episódio, ele sai da cadeia para voltar ao ofício da lei. A coisa não termina muito diferente do primeiro: uma tonelada de corpos e um Max Payne cada vez mais ferrado pelos seus vícios.
A tentativa da Rockstar de recriar São Paulo é louvável, mas ainda falta aquela assessoria mais próxima, ou simplesmente alguém que morou no país para explicar que não temos sotaque espanhol em certas palavras e que funk e Fluminense são características do Rio de Janeiro. Antes mesmo de ver a luz do dia, Max Payne 3 causou bastante indignação aos jogadores brasileiros por causa de erros de costumes, gerando muita discussão na época pré-lançamento e até uma retratação formal por uma frase errada no trailer.
Mas se algumas falas ficaram um pouco toscas, o visual mantém o alto padrão da softhouse de GTA. Na fase da favela, a paleta de cor amarela dá o tom para sentir o cheiro do esgoto e a pobreza do local. O contraste com as partes ambientadas no inverno de Nova York reforçam essa segmentação, essa nova etapa na vida de Payne. E o filme “Tropa de Elite” parece ter feito diferença lá fora, já que, ao ver policiais executando civis no morro, o próprio Payne comenta que “esses bastardos fazem o departamento de polícia de NY parecerem hari krishnas”.
Abusando do bullet time e do bom e velho tiroteio sem frescuras, Max Payne 3 alia dinâmica de jogo excelente com uma trama interessante que prende o jogador até a resolução de tudo, honrando o legado criado há dez anos. Boa narrativa, ótimos gráficos, multiplayer eficiente e jogabilidade impecável garantem o fator replay por bastante tempo. Vale a pena encarnar Max e ajudá-lo a fazer chover fogo e chumbo na terra da garoa.