Desde o seu surgimento, em 1827, Passo Fundo passou por mudanças que resultaram no desenvolvimento atual da cidade. Por detrás das paredes, ainda que velhas, existe muita história. História de um povo, história de uma época, história de uma cidade. Histórias e experiências que, ao longo do tempo, moldaram a sociedade passo-fundense. Reunir toda essas histórias não é tarefa fácil nem, tampouco, simples. Ainda assim, o Instituto Histórico Passo-Fundense aceitou o desafio e, há quase 60 anos, garimpa, pela cidade, pedaços de história. Carregados de lembranças, vivências e experiências, retratam a história da cidade.
Fundado em abril de 1954, o Instituto nasceu com o objetivo de reunir documentos da cidade. Os quase sessenta anos de estrada, fazem do IHR uma instituição que se desenvolveu junto com Passo Fundo e que, aos poucos, não só reuniu tais documentos como fomentou o estudo da história na cidade. Sem fins lucrativos, o IHR tem, hoje, o objetivo de estimular, auxiliar e propor medidas que assegurem os estudos históricos. A coleta de documentos e acervos ainda existe, mas para o Instituto mais que reuni-los é preciso torná-los acessíveis à toda a comunidade passo-fundense.
Responsável por esse trabalho, a equipe diretiva do IHR é formada por 20 membros e auxiliada por 16 associados que têm três anos para cumprir sua gestão. No último dia 30, quarta-feira, toda a equipe foi renovada e, agora, é presidida por Fernando Miranda. Ainda na quarta-feira, Juliano Roso, vice-prefeito da cidade, recebeu o título de Sócio Benemérito. O prefeito, Luciano Azevedo, também é assim intitulado. Além deles, Jorge Edeth Cafruni é o Sócio Honorário e Fundador do IHR. Toda a equipe - entre direção e associados - é responsável por cada documento histórico, mas, também, por estimular que tal história chegue os ouvidos e olhos de quem por aqui habita.
Essa tarefa também não é fácil e exige entrega para mergulhar no pó e encontrar no papel envelhecido um pouco de vida. Entre antigas caligrafias, fotos em preto e branco e retratos de uma vida diferente, Passo Fundo tem história. O IHR busca, justamente, aproximá-la da população. O novo president, Fernando Miranda, comenta que a preservaçāo da história passa pela compreensão de que esta é importante para a formação da identidade e da memória dos habitantes da cidade. “As fontes históricas, sejam elas documentais, monumentais, orais, fotográficas, literárias, pictóricas, e outras, devem ser preservadas ao mesmo tempo que devem ser tornadas acessíveis para que nelas as pessoas se reconheçam em suas igualdades e diferenças. Não apenas museus e arquivos têm essas funções de referência. É preciso que ao caminhar descompromissadamente, como um flaneur, pelas ruas da cidade, as pessoas se identifiquem com sua própria história, ao perceber resquícios de um passado que novamente aflora na memória”, comenta.
E esse passado pode vir à tona de diferentes maneiras. A história está em fotos, documentos, cartas, páginas de jornais. Recuperá-la é o desafio. As fontes históricas e acervos sobre a historia de Passo Fundo ainda estão muito espalhadas, em mãos de familiares ou parentes. Ou, até mesmo, perdidas em antigos baús ou fundo de gaveta. Aos poucos, elas chegam até o IHR. “Existe muita coisa recuperada: no Museu Histórico Regional, ao lado da antiga Prefeitura, podemos encontrar uma coleção enorme de fotografias, mapas, jornais muito antigos. Já o Arquivo Histórico Regional reúne um acervo enorme para pesquisa ou mesmo para quem tem apenas curiosidade pela história regional”, lembra Fernando. Além desses documentos há todo o acervo de Nicolau Araújo Vergueiro recuperado e todas as edições antigas dos jornais da cidade.
Tudo isso disponível em poucos passos. Ou, ainda, a um clique. Para disponibilização do material, o Instituto conta com um convênio com o Arquivo Histórico Regional, órgão da UPF, coordenado pelos professores Dra. Gizele Zanotto e Dr. Álvaro Klafke. Através da parceria, o acervo do Instituto chega às mãos do AHR e, lá, passa por limpeza, restauração e catalogação. Depois, é instalado em forma de comodato, e fica disponível à todas as pessoas interessadas. E tudo, aos poucos, está sendo digitalizado e disponibilizado através de DVD’s. O objetivo é facilitar o acesso e torná-lo mais dinâmico. Quem sabe, até, mais próximo do público.
Vivendo de história, o Instituto não deixa de colocar os olhos no futuro. “No curto prazo estamos dando continuidade à gestão do presidente Dr Pedro Ari Veríssimo na busca e disponibilização de acervos, como o do Dr. Nicolau Vergueiro”, explica Fernando. Mas os planos já podem ser vistos: “Pensamos na elaboração de um calendário de datas comemorativas relativas à História de Passo Fundo e região; no desenvolvimento de um mapa temático do cemitério da vila Vera Cruz, identificando os locais onde estão os personagens históricos e também os locais da bela estatuária lá existente, possibilitando visitas guiadas pelo Instituto”. Além dessas iniciativas, o IHR busca, para o ano que vem, uma extensa programação em comemoração aos sessenta anos de caminhada. Fernando explica que a ideia é promover “a coleta de fontes históricas junto à comunidade, palestras e exposições sobre a história da cidade, bem como a edição de um livro sobre a história do Instituto Histórico a cargo do Prof. Welci Nascimento”.
Nada – a não ser mato, um rio e índios – havia aqui quando os primeiros tropeiros escolheram Passo Fundo como rota para o centro do país. Hoje, Passo Fundo é grande e tem, nas costas, um amontoado de histórias que se relacionam entre si e juntas constroem a cidade. O Instituto, com um pouco de cada fio histórico, entrelaça experiências e colabora na interpretação do próprio tempo.