Tudo por um bilhete premiado

Espetáculo O bilhete, do Grupo Timbre de Galo, completa um ano de apresentações

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Pedro Paulo e Rosiméri são um casal comum. Somam sete anos de casados em uma rotina incansável entre a convivência e o trabalho. Porém, algo de novo sempre pode acontecer, mesmo para quem não tem expectativas para a mudança. A sorte pode sorrir e, quem sabe, virar do avesso a vida dos dois. Quem sabe, pelo destino, um bilhete de loteria caia nas mãos de Rosiméri?

Um simples devaneio, um voo da imaginação: “E se fôssemos ricos?” A vida que parecia estável e segura – originada de 10 anos de uma relação – de repente parece absurda. O casal percebe aos poucos que tudo está amarrado por um laço que, por milagre, continua ali.  Tudo poderia mudar se o tal bilhete fosse premiado e trouxesse consigo a promessa de uma vida nova.

Inspirada no conto O Bilhete Premiado, de Anton Tchekhov, a peça do grupo Timbre de Galo – O Bilhete – nasceu, cresceu e teve sucesso com uma nova proposta. Chega, agora, ao primeiro ano de apresentações. Da rua, o grupo foi para o palco e lá recebeu os aplausos de uma plateia que riu do início ao fim. Na época da estreia do espetáculo na cidade, em novembro de 2012, a equipe do Segundo Caderno foi ao Teatro do Sesc em uma tarde e por lá encontrou o elenco, Edimar Rezende e Mara Cavalheiro, e o diretor Guedes Betho. Sentados no teatro, em uma conversa informal, foi possível entender o porquê do sucesso da peça.

O Bilhete troca a linguagem com que o grupo está acostumado. Na transformação, tanto casal quanto plateia se entregam. “Estamos muito felizes com o resultado do trabalho, porque foi a primeira vez que o grupo Timbre de Galo, que tem sua essência no teatro de rua, faz um espetáculo de sala, que teve uma grande aceitação por parte do nosso público. Além disso, continuamos levando momentos de comédia, que é tradição do grupo, aliados a temas relevantes, que fazem o espectador ter outras visões da vida e do mundo”, declara Edimar. “Foi um ano de superação e de surpresas. Superação por estarmos em um palco italiano e de surpresa, pela grande aceitação do público”, ressalta Mara.

Para o diretor, é uma realização: “Isso é motivo de muito orgulho pra mim. Quando dirijo um espetáculo, sempre me pergunto: quanto tempo ele durará? Acredito na maturidade artística para os atores e para todos da equipe de um trabalho da carpintaria teatral. Um ano de vida de um espetáculo, em cartaz é, sim, coisa rara em nosso país, já que, cada vez mais, a máquina pública dificulta e diminui o apoio e incentivo às artes em geral. Mas, acima de qualquer coisa, ver um trabalho que chamo de nosso completar um ano me enche de orgulho. Ter dirigido Mara Cavalheiro e Edimar Rezende foi mais que um aprendizado, foi um troca. E o resultado: dois amigos conquistados. Viva o teatro! Viva O Bilhete! Façam suas apostas”, relata.

 “Isso não é teatro, é a vida real”, grita, em uma das cenas, uma Rosiméri apavorada com a vida que lhe foi apresentada. A decepção que se faz presente a partir dos devaneios do casal toma o palco e contagia a plateia que vê, no palco, um reflexo do seu cotidiano. Apesar de trágica, a peça não é triste, mas pelo contrário: a realidade fica tão estampada que o riso é inevitável. Não há como fugir: O Bilhete é o retrato fiel não só de casais que há 10 anos mantém uma relação, mas também daqueles que nem tem uma relação. E se você não é Rosiméri, você é Pedro Paulo. Ou os dois – um pouco de cada.

Além do roteiro, escrito por Leandro Scalabrini e dirigido por Guedes Betho, a peça é estruturada em cima do próprio cenário e na forma como este se constrói com a peça – desde o figurino até os objetos que caracterizam o devaneio e a realidade. O Bilhete não é uma superprodução, mas faz o sucesso de uma. No fim das contas, Rosiméri e Pedro Paulo não ficaram ricos, mas a peça é, sim, um grande bilhete premiado do grupo Timbre de Galo. E, para comemorar, nada melhor que o palco: Neste domingo, 3 de novembro, o grupo se apresenta no Teatro do Sesc, às 20h. Os ingressos estão disponíveis no local.

 

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