Dos takes às páginas

Enquanto grande parte das inspirações parte dos livros para o cinema, Leila de Souza Teixeira faz o caminho inverso e se inspira no cinema para criar histórias

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Uma enxurrada de obras literárias ganhou as telas desde o início da sétima arte. Séries completas, livros únicos, histórias de humor e amor. Sem qualquer requisito básico, são incontáveis os livros que tiveram suas páginas adaptadas em um roteiro para cinema. Mas e quem faz o caminho inverso? Quantas obras inspiradas no cinema existem? Quantos são os livros que se propõe a contar uma história que se passou ali, na tela? Ou quantas páginas inspiradas em filmes são capazes de fazer parte de um livro?

A 27ª edição da Feira do Livro propõe que a literatura abra as portas para outras artes. Tendo em vista a intensa confluência das artes na era digital, tal proposta é uma realidade concreta. Leila de Souza Teixeira, a palestrante de quinta-feira a noite e autora do livro “Em que coincidentemente se reincide” falou ao público sobre a mistura entre cinema, música e literatura. Buscando responder as perguntas feitas no primeiro parágrafo, Leila faz parte do grupo que prefere buscar inspiração e ritmo no cinema e na música e trazer o sentimento criado pelos dois para o livro. “A gente ouve falar muito sobre os filmes que surgiram dos livros, mas o que eu vejo acontecer é o inverso: assistindo um filme eu tenho vontade de escrever um conto, uma história”, comenta.

De fato, “Em que coincidentemente se reincide” surgiu dessa forma: ouvindo música ou vendo filmes. Tantas histórias que deram origem a algumas outras. Para cada história, uma outra espelhada, que complementa e dá novo significado à anterior. Entre temas como a morte, os relacionamentos, a guerra e a criação artística o livro é capaz de dizer que tudo acontece em ciclos, que se repetem e se refletem, mas que não são idênticos. Esse jogo de reincidências e coincidências é a chave dos onze contos do livro de estreia da autora.  “O meu livro é formado por várias histórias ligadas uma a outra. Os personagens estão em uma história e outra. E a maioria deles trabalha com música e teatro.” Tantas artes retratadas em páginas. Além das histórias ligadas e dos personagens imersos em arte, o livro traz a prova concreta de que nenhuma arte é uma só, mas a junção de pequenos pedaços de alguma outra.  “Eu não acho que as coisas estão separadas: literatura é literatura e cinema é cinema. Está tudo misturado, quem gosta de literatura também tem os olhos nas outras artes.”

Leila comentou, também na noite de quinta, sobre o link feito entre as artes e sobre as adaptações que ganham vida. Questionada se há perda quando uma arte se apodera da outra, ela fica em dúvida. “Perder é relativo. Livro e filme são, por vezes, diferente. É possível gostar dos dois de modos diferentes. Tem muita coisa que perde a essência da obra original, sim. Mas existem outras que são fiéis. Tem como fazer as duas coisas”, comenta.

Para o futuro, a arte continua nos planos de Leila. Durante a semana, Leila se dedica a uma empresa que se distancia da literatura. Nos finais de semana, o tempo é todo destinado à escrita. Nos intervalos, lê livros e filmes e busca a inspiração para a própria história. História essa que retrata uma pessoa fica fora do Brasil por dez anos e volta. “É uma história sobre as reações dela diante das mudanças do país e sobre as mudanças dela, também”, explica. Enquanto isso, ela espera uma música tocar ou uma cena a encantar para que a palavra possa na página nascer.

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