Passada a emoção que O Tempo e O Vento - ignorando qualquer crítica - foi capaz de trazer aos gaúchos, é momento do passo-fundense mergulhar um pouco mais na história. 1895, o chefe político republicano Licurgo Cambará está sitiado em casa, junto à família, sob o cerco de tropas federalistas. Durante dez dias, a escassez de água e comida, a insegurança e a ansiedade pela resolução da guerra faz o sobrado se tornar mais que uma casa. Transforma-se em refúgio, pedaço de paz. Regadas a angústia, as relações entre os personagens se dá de forma confusa e ansiosa com a morte como expectadora constante. Licurgo resiste à invasão dos maragatos e, intolerante, recusa-se a pedir trégua aos inimigos. Mais que uma história de guerra, o retrato patriarcalismo, a relação com a terra e a presença forte e constante das mulheres, vislumbrando a formação da sociedade gaúcha.
Buscando reproduzir os sentimentos, as vivências e a história que Érico Veríssimo retratou na trilogia O Tempo e o Vento, o Grupo Cerco apresenta no dia 20 de novembro o espetáculo O Sobrado em Passo Fundo, no Teatro do SESC. A peça é uma adaptação de sete capítulos de O Continente e a sessão, com entrada franca, através da doação espontânea de 1 kg de alimento não perecível, tem patrocínio da SulGás através do Ministério da Cultura – Lei Rouanet - e integra uma turnê por quatro cidades do Estado. Antes de Passo Fundo, o Grupo passou por Campo Bom e Caxias do Sul e encerra a turnê em Porto Alegre, nos dias 28, 29 e 30 de novembro e 01 de dezembro.
Ao descrever a peça, a crítica é unânime: O Sobrado é um dos destaques do teatro gaúcho e retrata, com sensibilidade e emoção, uma das histórias mais angustiantes das páginas. Dirigido por de Inês Marocco e com um elenco com a participação de Anildo Michelotto, Celso Zanini, Elielto Rocha, Elisa Heidrich, Isandria Fermiano, Manoela Wunderlich, Kaya Rodrigues, Luís Franke, Marina Kerber, Martina Fröhlich, Philipe Philippsen, Rita Maurício e Rodrigo Fiatt, o teatro conquistou seis importantes prêmios: o 4º Prêmio Braskem em Cena de Melhor Espetáculo pelo Júri Oficial, o 4º Prêmio Braskem em Cena de Melhor Espetáculo pelo Júri Popular, o Prêmio Açorianos 2009 de Melhor Direção, o Prêmio Açorianos 2009 de Melhor Dramaturgia, o Prêmio Açorianos 2009 de Melhor Ator Coadjuvante e o Troféu RBS Cultura 2009 de Melhor Espetáculo pelo Júri Popular. Além da direção e elenco, a montagem tem iluminação são de Cláudia de Bem, cenografia de Élcio Rossini e figurinos de Rô Cortinhas.
As conquistas são capazes de definir um espetáculo daqueles que, quando sai do teatro, quer ligar para todo mundo e intimar a assistir. O problema é que em Passo Fundo a sessão é única. Ligue antes. Um dos argumentos que pode ser utilizado é que é muito difícil colocar a literatura em cima do palco e conseguir ser fiel ao texto sem deixar o teatro de lado. O Sobrado - com a direção e atuação - consegue fazer exatamente isso. É o próprio Érico que está ali, contando a história de um povo aguerrido e bravo. Mas vá sabendo que O Sobrado conquista pela simplicidade: é mais teatro do que uma superprodução; é mais interpretação do que efeito sonoro; é mais gestualidade do que drama forçado.
A apresentação acontece às 20h, com entrada franca através da doação espontânea de 1kg de alimento não perecível. Ingressos antecipados no local ou na bilheteria uma hora antes do espetáculo.