Em um mundo ficcional, Panem é um lugar extremamente autoritário e cruel. Dividido em 12 distritos, o povo desconhece paz ou qualquer conceito de “bem estar”. Grande maioria é pobre e escrava de uma vida dominada, em grande parte pela televisão. É, sim, uma franquia. E é, também, direcionada a adolescentes. Mas em um cenário onde os vampiros, zumbis e bruxas dominam o cinema, Jogos Vorazes se diferencia pela crítica sutil, pela atuação intensa e pela história carregada de tensão.
O primeiro longa da quadrilogia - baseada na obra de Suzane Collins - estreiou no Brasil em março de 2012 e arrecadou cerca de 10 milhões de dólares. A segunda parte chegou por aqui no final de semana passado (mas a sua estreia, no resto do mundo, é hoje) e as bilheterias - de sexta a domingo - arrecadaram 15 milhões de dólares. Os números comprovam que a continuação de Jogos Vorazes é, no mínimo, muito melhor que o seu início. Mudança de direção, acréscimo de atores e qualidade nos efeitos especiais potencializaram o poder da história e Em Chamas já é capaz de fugir do preconceito das franquias hollywoodianas e mergulhar no universo dos filmes que ousam - na crítica e no visual. Se for ao cinema, você entenderá o porquê.
A história de Em Chamas traz uma Katniss Everdeen tendo que lidar com os efeitos de sua vitória na última edição dos Jogos Vorazes - competição onde os jovens de todos os distritos enfrentam-se até a morte. A competição é, na verdade, uma forma de o governo manter o poder e, ao mesmo tempo, oferecer entretenimento a população já que os Jogos Vorazes seguem o estilo reality show. Ao lado de Peeta Melark, interpretado por Josh Hutcherson, Katniss faz a tradicional turnê pelos distritos e se descobre como ícone de revolução. Tentando abafar sua identidade, o governo a obriga a participar, ao lado de Peeta e de outros sobreviventes dos jogos, do Massacre Quaternário - edição comemorativa da competição. E assim começa a tensão, a agonia e a luta por sobrevivência.
Pode parecer repetitivo, mas o longa se constrói em cima da própria Katniss e da atuação de Jennifer Lawrence. A atriz - que já arrecadou um Oscar por O Lado Bom da Vida - confirma que é uma das melhores atrizes de sua geração. A atuação dela se constrói através de olhares e de posição corporal: com ambos ela consegue transparecer a confusão de uma protagonista que vê o mundo ser desconstruído ao seu redor. Ainda que Em Chamas seja a parte intermediária da quadrilogia e, por isso, não tenha um início ou um fim demarcados, Jennifer consegue prender o espectador na história da sua personagem.
Também agregando a atuação, estão Jeffrey Wright, Amanda Plummer e Lynn Cohen, veteranos do cinema. A mudança de direção trouxe Francis Lawrence, de Água para Elefantes e Eu Sou a Lenda, para frente do longa e, com um orçamento de 140 milhões de dólares, ele conseguiu aproveitar cada um dos 146 minutos do longa.
O universo pensado por Suzane Collins foi, sim, transposto para a tela e a crítica que a autora traz está entre as cenas. O longa vai muito além das curvas, das falas e do romance. Traz a sensibilidade de uma jovem que pode até viver em um mundo fictício, mas enfrenta uma alienação tão real quanto a nossa.