Coluna: A economia do amor

Por Pablo Morenno

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O filme não é moderno. Mas sempre vale a pena revê-lo. O Filho da Noiva. Em plena crise econômica argentina, dono de restaurante procura ajudar seu pai, já idoso, a realizar o sonho da mãe com Mal de Alzheimer: casar-se na igreja.
Nino Belvedere, o pai, tem uma pequena poupança, guardada durante toda a vida. Queria retornar à Itália, para rever suas origens. Agora, de repente, essa poupança lhe pergunta se não pode ser utilizada para realizar o sonho de sua esposa. Norma, a mulher, em respeito aos princípios anticlericais do marido, havia sacrificado seu sonho durante quarenta e quatro anos de casamento. Agora, Nino precisa mostrar que também é capaz de sacrifícios por amor.
Onde colocar as economias de sua vida? Essa é a pergunta que tira o sono de Nino. Vai realizar seu sonho, ou o sonho de sua esposa, sabendo que, talvez, pela doença ela nem se dê conta do ritual. O filho ajuda o pai no discernimento. E Nino toma uma decisão, a mais importante de sua vida.
Vivemos num mundo que valoriza o sucesso e a fama. Os jovens os procuram incessantemente. Quase ninguém se interessa em ser importante. O problema é que os famosos, quase sempre, são substituídos por outros. Os importantes não. Michael Jackson era famoso. Logo será substituído por Bruno Mars. Porém, uma enfermeira que passa a noite num hospital cuidando de enfermos não é famosa, mas é importante. E mesmo quando trocar de turno, não será esquecida.
E o que há de diferente entre sucesso e felicidade? Sucesso tem a ver com dinheiro e poder. Felicidade tem a ver com a vida. Sucesso pode ser alcançado sozinho. A felicidade é sempre compartilhada. Na busca pelo sucesso, o outro é um risco. Na busca pela felicidade, o outro é meu companheiro. Par alcançar o sucesso é ótimo que o outro caia. Para alcançar a felicidade é preciso atrasar-se para levantar o caído.
É realmente feliz aquele cujo sonho faz parte do sonhar do outro. Ao realizar o sonho do outro, sem querer a vida me brinda com a realidade do meu.
Mesmo para não cristãos, o Natal faz repensar valores da humanidade. Uma mulher rejeitada é escolhida para mãe do filho de Deus. Um menino importante nasce em lugar sem importância. Um pai humilde salva a mãe e o menino dos preconceitos do mundo. A mãe se sacrifica para realizar a vida do filho. O pai deixa sua terra para realizar o sonho da mãe e do filho. O filho, mais tarde, entrega sua vida para realização do sonho dos outros.
Entre realizar seu sonho e o da amada, Nino Belvedere faz sua dolorosa opção. A felicidade não é oposta à dor. Nino opta pelo sonho da amada. Entre sua felicidade e a dela, opta pela dela. Na felicidade da amada, que talvez não lembre de nada em alguns, ele reencontra sua grande alegria.
Nino Belvedere utiliza as economias de uma vida inteira para realizar o sonho de outra pessoa. Mas no filme, e na vida, não é o dinheiro reservado o mais importante. O mais importante é o amor que ensina o que fazer com o dinheiro. Esta é a lição que um mundo dominado pelo poder econômico precisa aprender com o Natal.

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