Coluna: Não mais desejarei

Por Pablo Morenno

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Chega de bajular meus amigos no ano novo. Me dei conta: desejar-lhes coisas boas tem sido inútil. Preparem-se para a verdade.
Não mais desejarei sonhos realizados; o que falta não são sonhos, mas coragem e estratégia. Sem coragem e estratégia tornam-se infecundos os sonhos. Tenho um amigo que deseja passar num concurso público. Que tenha coragem para muitas horas de estudo, que organize seu tempo em função do que sonha. Que fique menos no facebook, tome menos cerveja e assista menos a jogos de futebol.

Não mais desejarei dinheiro no bolso; o que falta é oportunidades. Que as tenham e estejam preparados para elas. Meu pai dizia “sorte é um cavalo encilhado que passa. É preciso montá-lo e entender de domas e, tendo conseguido montá-lo, agarrar-se bem às crinas”. Então, quem deseja estar preparado para a oportunidade treine domas, exercite a fortaleza das mãos, com calos, de preferência; mãos calejadas não deslizam em crinas.

Não mais desejarei amor; muitos têm amor e o perdem. Então, que saibam cultivar o amor. Que sejam jardineiros, agricultores. Sobretudo aprendam de paciência. O amor não aguenta ansiedade, desespero. Não adianta desejar amor para quem não sabe amar.
Não mais desejarei felicidade. Ninguém pode estar sempre feliz. Começamos com contos de fada na infância e depois ficamos querendo o amor das novelas, dos romances açucarados, dos filmes comerciais. Será que Jesus Cristo teve uma vida feliz? Madre Tereza de Calcutá vivia sorrindo? Mandela foi sempre feliz, inclusive na prisão? Desejo que tenham vidas com significados, importantes como a dos grandes personagens da literatura.

Não mais desejarei saúde pra dar e vender. Saúde não se negocia, se preserva. Se meus amigos não querem deixar de fumar, não fazem exercícios, não se alimentam de modo adequado, não querem fazer exame de próstata, de que adianta desejar saúde? Tomem providências, porque de agora em diante, se depender de mim, nada de saúde boa. Mas não me culpem, nem culpem Deus pelos achaques. Culpem seus maus hábitos.

Não mais desejarei paz. Nem para meus amigos, nem para o mundo. Que meus amigos resolvam seus conflitos com diálogo ou psicoterapia. A paz de cada um não depende dos outros. E a paz do mundo também não depende apenas de meu desejo, nem de todas as pessoas. Paz não é desejo, é atitude.

Não considerem isso maldade minha. O que estou fazendo com vocês já faço comigo há tempos. Tenho tomado sérias providências para mudar minha a vida sem desejos bobinhos. A realidade me fez saltar sete ondas enormes. Não tenho mais medo de mar.

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