A imprensa que cobre cinema, em qualquer lugar do mundo, costuma reconhecer, de tempos em tempos, os chamados “coadjuvantes perigosos”, aqueles atores que, quando surgem em cena, roubam a atenção normalmente dedicada aos protagonistas. John Goodman sempre foi conhecido como um famoso coadjuvante perigoso. Joe Pesci, nos filmes de Scorsese ou em Máquina Mortífera, idem. Phillip Seymour Hoffman, que morreu cedo demais (47 anos) na melhor fase de sua carreira, era o típico coadjuvante perigoso, com o acréscimo de ter brilhado, também como protagonista. Mas não é na “super interpretação” (como eu chamo aqueles papéis em que o protagonista transforma-se completamente) oscarizada de Capote que a imagem de Hoffman se materializa na minha lembrança. Em 1996, ainda era um garotão chamando a atenção em “Twister” e “Boogie Nights”, fez uma ponta em “Quase Famosos”, em “Dragão Vermelho”, sempre de forma eficiente, mas nunca inesquecível. O oscar, em 2005, deu início à verdadeira série de papéis que alavancaram a carreira de Hoffman. Poucos encarnaram o estereotipado papel de vilão hollywoodiano tão bem quanto ele em “Missão Impossível 3” – é a melhor coisa do filme. “Antes que o diabo saiba que você está morto” e “Sinedoque, Nova Iorque”, o trazem à frente de ótimos elencos evidenciando uma escolha de roteiros inteligente. Hoffman não se deixou levar pelo Oscar, nem para o bem, nem para o mal. Alternou filmes independentes com superproduções, filmes de ação com dramas elogiados. “O mestre” foi um atestado de maturidade artística. Sua entrada em cena na série “Jogos Vorazes” foi uma benção à franquia, que não é ruim, mas precisava de um rosto com o de Hoffman para oferecer uma ligação mais estreita com o público. Vai fazer falta em um mercado regido cada vez mais por rostos bonitos acompanhados de uma pós-produção milagrosa em termos tecnológicos. Nesse mundo dominado pelo dinheiro e pelo efeito, coadjuvantes perigosos são sempre uma maneira de manter as coisas em seu lugar e lembrar a produtores e diretores que ninguém, sozinho, faz de um filme um sucesso. Faltam coadjuvantes perigosos como Hoffman um dia foi antes de se tornar protagonista.
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Alguns amigos, no Facebook, me cobrando pelos elogios a “O Lobo de Wall Street”, que alguns acharam enfadonho e histérico demais. Me desculpem, mas não retiro uma palavra do que disse na coluna de 15 dias atrás. E não, não coloco o filme entre os melhores da carreira do diretor, apenas que é muito bom mesmo!!
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The Walking Dead voltou do seu recesso de fim de ano no último final de semana, e voltou em câmera lenta, principalmente em comparação com o episódio oito, um dos mais comentados e envolventes das quatro temporadas da série até agora. Por um lado, é até natural que o episódio nove “reduza a marcha”, e é provável que o tempo dedicado a Rick e seu filho seja importante para o desenrolar da série daqui para diante – mas um episódio inteiro para ilustrar o amadurecimento do garoto é um imenso contraste com a quantidade de histórias paralelas que acontecem a partir de agora após a debandada ocorrida no último episódio de 2013. Esperar para ver, neste final de semana, se a série vai decidir pelo expediente aborrecido de dedicar um episódio a cada grupo de personagens ou se vai retomar o ritmo ágil de seus melhores momentos.