Quando o fim de fevereiro se aproxima, os primeiros sinais de um ano cultural se apresentam em Passo Fundo. A temporada de verão, por aqui, é sempre mais parada. Um teatro aqui, um projeto lá. Quando o fim das férias chega, os convites se multiplicam. Diferentes, eles constroem um mapa de uma cidade onde a cultura emerge pouco mais a cada ano. São novas propostas, outras alternativas e possibilidades diversas de olhar para aquilo que Passo Fundo produz.
No meio de tantos convites, um desafio: movimentar a cultura, numa época onde é um tanto quanto difícil e, de quebra, proporcionar uma nova visão do teatro. Assim, de forma ousada, chega a Mostra Rito de Teatro, uma ideia do Grupo Ritornelo de Teatro. No próximo final de semana, de 21 a 23, três diferentes espetáculos e oficinas de teatro estarão disponíveis para o público. O diferencial está no local: tudo acontecerá na sala de trabalho do grupo. “A proposta é realizar apresentações teatrais na nossa sala de trabalho entendendo isso dentro de uma perspectiva que compreende apresentações teatrais em espaços alternativos, como algo significativo na elaboração da diversidade cultural local, Apostando que isso pode proporcional outras formas de acesso ao teatro, possibilitando novos olhares sobre a teatralidade e sua relação com o público plateia”, explica Guto Pasini.
É a primeira vez que o Grupo aposta nessa época do ano. “Pensamos ser uma oportunidade de, primeiro, mostrar algo diferenciado as pessoas e segundo, criar um “respiro” na produção cultural local, estimulando novos olhares e relações da comunidade com a arte aqui produzida”, comenta. De fato, serão novos e diferentes olhares. Passo Fundo é, essencialmente, consumidora de comédias. A Mostra Rito de Teatro foge disso: abrindo o evento, o Teatro Depois da Chuva apresenta Os Bons Serviços; seguindo a programação, Márcio Menghell se apoia nas crônicas de Caio Fernando Abreu para apresentar O Homem que Acreditava e, por fim, o Grupo Educar Produções Culturais mescla poesia e música na adaptação do livro Ponto de Tecer Poesia. Tudo isso em meio a oficinas, debates e vídeos.
A escolha pelos espetáculos foi estratégica: “Escolhemos, primeiro, porque são espetáculos que podem ser apresentados dentro de espaços alternativos, sem comprometer a qualidade do trabalho e depois por que são pessoas e grupos que são nossos amigos e conhecemos e confiamos no trabalho deles”, explica Guto. Além dos espetáculos, no primeiro dia de mostra será apresentado um vídeo sobre o teatro e, depois, o espaço será aberto para uma conversa sobre o tema. Guto destaca que tudo acontecerá de forma informal, possibilitando a diversidade de opiniões, impressões e interpretações. Além do vídeo, há a oficina de teatro – focando interpretação a partir da perspectiva do grupo e voltada pra relação do jogo teatral. “Não precisa ter experiência, ou ser ator/atriz, é direcionada de fato aos interessados em conhecer e experimentar um pouco de como entendemos a relação do jogo teatral”, comenta Guto.
A programação foi pensada há muito tempo. “Sempre pensamos em fazer algo assim, propor ideias novas e ações diferenciadas, penso que é um algo que vem já da proposta do Grupo, é importante as pessoas terem acesso a outras possibilidades, a diversidade”, explana. Assim como experimentar novos sabores, experimentar novas propostas é fundamental para o desenvolvimento do teatro. Pelo menos é o que acredita e defende o Grupo. “Dessa ideia veio a mostra - de fazer algo interessante no mês de fevereiro, que em geral temos menos possibilidades. Uma vez que definimos que íamos fazer, foi preciso correr atrás da produção, ver quem pode e topava participar de uma “loucura” destas. Aí as coisas vão acontecendo”, lembra Guto.
Tudo preparado, o Grupo, agora, espera a participação e o resultado da aposta. “Nosso desejo é que as pessoas queiram ter um outro contato com o teatro, por que, nesta ideia de espaço alternativo, embora não se tenha tantos recursos estruturais (luz, estrutura de palco italiano e tudo o mais), é uma possibilidade de estar próximo ao trabalho dos atores/atrizes: de ver cada detalhe do trabalho, da “interpretação” de cada artista, daquela “lágrima” de suor que escorre no cantinho do rosto”. Essa proximidade – tanto física quanto subjetiva – é o que possibilita uma nova forma de contato e, ainda, uma nova experiência de ver e sentir o teatro. No mínimo, uma oportunidade de experimentar a ousadia do teatro.
Teatro, oficina e debate
Dia 21/02
19h – Abertura Oficial
Exibição de vídeo sobre o teatro.
21h – Os Bons Serviços
Os Bons Serviços é indicado para adultos a partir dos 16 anos e é fruto do encontro da atriz Betinha Mânica, de Passo Fundo, com o diretor Jefferson Bittencourt de Florianópolis, tendo como base o conto original ‘Os Bons Serviços’, do argentino Julio Cortazar. No monólogo uma empregada, de vida simples e modesta, é contratada para cuidar dos cães de estimação dos participantes de uma grande festa dada na principal mansão do bairro. A partir do encontro inusitado com um dos ‘grã-finos’ na festa, Francinet, a empregada, se vê envolvida em uma trama surreal e misteriosa.
Dia 22/02
14h – Oficina de Teatro
Ministrantes: Guto Pasini e Miraldi Junior
21h – O Homem que Acreditava.
O espetáculo, produzido pelo Núcleo Rindo à Toa, traz Márcio Meneghell como Caio Fernando Abreu. Em cena, a literatura e o espírito humanista do famoso escritor gaúcho são conteúdos para um diálogo aberto e franco com o público. Caio Fernando Abreu e seu olhar suave e dolorido para com as imperfeições da vida, diz sobre o amor, a morte, o medo, as injustiças sociais e a aventura de viver. O Homem que Acreditava tem texto e direção de Edson Bueno, um dos diretores mais premiados do Teatro Paranaense e reconhecido nacionalmente, a peça e recomendada para maiores de 14 anos.
Dia 23/02
14h – Oficina de Teatro
Ministrantes: Guto Pasini e Miraldi Junior
21h – Ponto de Tecer Poesia
A Educar Produções Culturais leva ao tablado o espetáculo Ponto de Tecer Poesia, uma adaptação livre do livro homônimo, de Silvya Orthof. No espetáculo, LIVRE para todos os públicos, Carlinhos Tabajara, Eliezer Aires e Miraldi Junior são três atores cantores revezando-se em inúmeros personagens que surgem durante a viagem de Ulisses e narra a espera de Penélope por seu amado Argonalta. A história se desenvolve tal qual a trama de um tecido, uma malha, um tricô, a renda da mulher rendeira do agreste que se mistura a história de Lampião e Maria Bonita costuradas com muita música e poesia.
Todas as atividades acontecem no Ifibe e os ingressos, R$30,00 e R$15 (meia entrada), serão comercializados a partir de segunda-feira, 17, na portaria do local.