Coluna: O erro do rei

Por Pablo Morenno

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As redes sociais estão bombando contra a propaganda do rei Roberto para uma marca de carnes. O rei, que não era bem vegetariano, comia ovos e derivados do leite, revela numa cena em restaurante, desejar o bife de um outro comensal. Gagueja para dizer a marca, mas o garçom ajuda. A propaganda termina com um risinho falso do rei, mas ninguém toca no bife.

Até agora não vi sequer um único comentário a favor. Todos contra o rei. Si hay rey, soy contra. A reação à propaganda está tão negativa, que os comentários da página de Roberto no Facebook estão passando por monitoramento e a página da Friboi desabilitou o item “avaliação” de seu site.

O blogueiro Ricardo Alexandre enumera razões da quase unanimidade de reações negativas. Roberto usaria sua intimidade para fazer dinheiro, enquanto proibiu a biografia que falava da mesma intimidade. Roberto nem era vegetariano, comia ovos e derivados do leite. Abusaria de seus fãs, por se utilizar de uma música do seu público, “ O portão”, que relata a volta ao lar de um homem arrependido, nada a ver com o comercial. Outra crítica é quanto ao péssimo desempenho; o cantor gagueja para dizer a marca, e é salvo pelo garçom. Os críticos também dizem que Roberto devia se dedicar mais à carreira, está há mais de onze anos sem álbum inédito. Por fim, o rei deveria ter doado o dinheiro a alguma campanha humanitária.

Me desculpem os críticos. Alguma coisa está fora da ordem. Há um grave erro de avaliação em tudo isso. Roberto Carlos é um artista, e como tal deve ser avaliado. Esta é uma questão antiga. As pessoas querem exigir do artista que seja um sujeito de boa moral, com conduta ilibada, que não cometa deslizes. Por que tanta picuinha com os artistas, se nós mesmos não somos santos? Já vi isso rodando no Facebook, de que Renato Russo era um mau exemplo, de que Cazuza era gay, de que Hoffmann, ator morto recentemente, não merecia o Oscar por se envolver com droga, de que Michael Jackson devia ser esquecido por usar propofol. E daí?

O que se espera de uma atriz é não ser canastrona. O que se espera de um escritor é escrever boa literatura. O que se espera de um jornalista é informar com veracidade e imparcialidade. Se a atriz é lésbica, se o escritor é alcoólatra, se o jornalista faz swing, o que eu tenho a ver com isso? Precisa um cantor entender de carnes? Carne eu mesmo escolho no açougue.

Artista apenas tem de ser bom em sua arte. Nada mais. Roberto não errou naquilo que se espera dele: que componha e que cante bem. Poderia ser cobrado se desafinasse. A propaganda é péssima, de mau gosto, mal produzida. Mas isto é coisa para os publicitários e os consumidores avaliarem. Já que o Rei não nos apresenta novas canções faz tempo, deixa ele ganhar um dinheiro com propaganda. A mim, só me convence cantando. De vez em quando.

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