Um trem que parte. Outro que chega. No trem o menino e, com ele, a vida. Vida que percorre pela cidade, por ruas que traçam caminhos e destinos. O trem – tanto o que vai, quanto o que chega – vai pela terra. Vai pela serra. Vai pelo mar. Talvez corra entre estrelas. Talvez reste apenas o ar. No trem, a canção e nela a vontade de ir além. Da vida de Heitor Villa-Lobos, maestro e compositor e um dos maiores nomes da música erudita mundial e brasileira, nasce a ideia de compartilhar música, teatro e conhecimento.
Março, mês da música clássica no país, traz a Passo Fundo a oportunidade de um encontro íntimo com o gênero. No palco, composição e arte para identificar o respeito à criança, à brasilidade, à amizade e à transformação. No espetáculo, sete personagens, de diferentes regiões do Brasil, recebem simultaneamente uma misteriosa carta de Villa-Lobos. A carta os convida para uma viagem de trem. Por obra do destino ou da escrita, eles se encontram na estação e constatam que o trem havia partido sem que pudessem embarcar a tempo. Esse fato provoca instabilidade e um questionamento individual sobre o sentido de estarem ali, o sentido da viagem, o sentido do trem - o sentido da própria vida. Ao se conhecerem, percebem as necessidades e os desejos comuns e decidem, então, construir o próprio trem.
Assim, unindo a música, a obra e o teatro, “O Trenzinho do Caipira” – Projeto Villa-Lobos Para Crianças de Todas as Idades – é uma proposta para espalhar a música erudita entre as crianças. Com teatro e oficina, o projeto tem o objetivo de fazer o público revisitar o seu sentimento de ser brasileiro, podendo vislumbrar as diferentes visões do país e, com isso, se identificar e enquadrar em qualquer aspecto.
O projeto leva o mesmo nome da composição feita por Villa-Lobos em 1930 – cujo primeiro parágrafo deste texto é inspirado – e que é caracterizada por imitar o movimento de uma locomotiva com os instrumentos da orquestra. A escolha do projeto por Villa-Lobos se deu pelo potencial criativo, multicultural, folclórico e pedagógico da obra do compositor. Entre um espetáculo e outro, diversas linguagens constroem as cenas onde a música passa. No palco, não há a intenção de resgatar a história de Villa Lobos, mas de usar a sua obra para chegar até crianças.
Além do espetáculo, uma oficina
Todo o projeto e teatro é realizado pela Cia do Abração, um espaço de arte e cultura, que há 12 anos atua em Curitiba e tem como proposta principal a pesquisa e produção teatrais. Para que o projeto toque todos os sentidos e atinja, também, a prática do que é apresentado no palco, o grupo oferece, também, uma oficina gratuita para o público infantil. A proposta é que a partir de técnicas teatrais lúdicas da Contação de Histórias e Animação de Objetos, presentes na prática do Teatro para Crianças da Companhia, seja possível desenvolver a sensibilidade dos participantes, aflorando o espírito coletivo e lúcido da brincadeira usado como ferramenta para a construção da arte.