Repleto de poesia

Eis que surge a resposta: depois do desafio da cerveja, o desafio é de espalhar poesia na rede social

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Você certamente possui um perfil nas redes sociais. E, mais certamente ainda, você tem um (dois ou três) amigo(s) que, nas últimas semanas, postaram vídeos bebendo 500 ml de cerveja e desafiando mais nomes para fazer o mesmo. Pois bem. Eis que entre um ml e outro surge a resposta: o Desafio da Poesia não exige vídeo, não exige exposição. Exige apenas alguns minutos de busca por um poesia e um clique: compartilhar. De clique em clique, tornou-se viral.

Como se fosse contagiosa, cada ação no Facebook se multiplica em pouco tempo. Narrar a si mesmo. Contar o que pensa, o que faz, o que ouve. Esse é o papel da rede. Não há discussões. Quando um desafio entra no meio da história, o resultado é certo: ninguém gosta de perder e todos querem comprovar algo para alguém. O fato é que o Desafio Bávaro da Cerveja questionou o mundo se escancarar as janelas e portas de si mesmo para um mundo (ir)real é realmente saudável. Por outro lado, o Desafio da Poesia traz uma nova proposta de uso do curtir e compartilhar e espalhou, nas últimas semanas, um pouco de cultura pela rede.

Se o Caderno Avesso, na semana passada, entrou no mérito da questão do Desafio Bávaro e ouviu quem participou, o Segundo deu voz a quem escolheu compartilhar poesia. Priscila da Rosa é estudante de Psicologia e acredita que de todos os desafios propostos, o da poesia se destacou. “É o mais  "decente”. Fui desafiada quatro vezes a utilizar das palavras de um autor famoso. É bacana perceber que este desafio é saudável e motivou tantas pessoas. O vi começando com alguns contatos do Facebook e despertou curiosidade e desejo de participar deste. Fiquei feliz quando o primeiro desafio surgiu e um pouco mais feliz quando o 4º desafio chegou. Particularmente amei participar deste desafio, que se fosse outro (desafio da cerveja) me negaria a cumprir, bem como a pagar o tal fardo”, comenta.

A opinião vai de encontro ao que Patrícia Chiodi, vestibulanda de Medicina. Com quatro livros para receber - já que os amigos não cumpriram o desafio - ela acredita que o desafio é uma forma de incentivar a cultura. Eu aceitei fazer o desafio, porque é uma forma de levar mais cultura. É raro ver jovem que lê e presa pela poesia brasileira, são tantas poesias e poemas ótimos, e pouca gente conhece. E fazer um desafio assim, faz todo mundo pensar, e rever onde está o nível de leitura de cada um. Tu compartilha tua poesia e acaba descobrindo novas. É bem mais divertido que o da cerveja”, brinca.

Pablo Morenno, colunista do Segundo e autor de livros, também pensa assim. “Os jovens são, de algum modo, reflexo da sociedade. A cultura não é valorizada na sociedade em geral, isso aparece nos jovens, mas não em maior índice. Temos uma elite econômica que não é culta. Essa característica influencia os jovens brasileiros, que, em geral, preferem bens de consumo à cultura. Os amigos valorizam mais quem tem um boné de marca do que quem leu Leminski”, comenta. Apesar da situação, Pablo vê uma luz no fim do túnel: “Vejo uma tendência à mudança. Mais da metade de meus amigos no Facebook são adolescentes e jovens de escolas onde fui trabalhar meus livros. Poucos deles compartilharam o desafio da cerveja. A maioria aderiu ao desafio da poesia. Aqui em Passo Fundo temos um grupo de jovens que querem ser escritores, todos com menos de 24 anos. Se oferecermos cultura a esses jovens, eles vão nos surpreender”, aposta.  

Na rede, há um espetáculo, no qual a humanidade assume o papel principal. Espetáculo de ideias e opiniões que voam às telas dos computadores. A rede social permitiu uma revolução desejada desde o início da civilização: cada um escolhe como quer ser visto – independentemente da realidade. Há quem escolha a cerveja, há quem escolha a poesia. E tudo bem por isso. Vale lembrar, como ressalta o estudioso Edvaldo Couto que “nesse universo da cognição conectiva cada um é o que compartilha.”

E falando em poesia...

Ontem, 14, comemorou-se o Dia Mundial da Poesia. Em meio a tanto abre aspas no Facebook, o gênero saltou da rede e ganha espaço no Teatro do Sesc em duas atividades.

Voltado para estudantes do Ensino Fundamental, um Recital de Poesias será conduzido, nos dias 21 e 22, pela Cia de Teatro Contapramim e irá abordar textos de grandes nomes da poesia brasileira. Entre Mário Quintana e Carlos Drummond de Andrade, tem espaço, também, para Manuel Bandeira, Vinícius de Moraes e Cecília Meireles. A atividade acontece pela manhã, às 9h30, e pela tarde às 14h30.

Além do Recital, o projeto Sesc Mais Leitura traz a Passo Fundo o músico, escritor e tradutor - autor do livro Cidade de Fachada -Pedro Gonzaga para trabalhar técnicas de criação de poesia. A proposta é focar em elementos como a percepção e disposição dos versos, a descoberta da metáfora, a proximidade com a música e, ainda, a possibilidade de rever grandes autores do gênero.

As escolas que desejam participar  de qualquer uma das atividades podem entrar em contato pelo telefone (54) 3313.4318.


Dia Mundial da Poesia
 20 e 21 de março
Recital de Poesia - 9h30 às 14h30
Sesc Mais Leitura - 10h às 15h
Teatro Sesc (Av. Brasil, 30) 

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