Coluna: A fonte da PIXAR secou

Por Fábio Rockenbach

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Durante anos, nenhum estúdio americano foi tão perfeito quanto a Pixar. Era assustador que uma obra-prima sucedesse outra: Toy Story, Vida de Inseto, Toy Story 2, Monstros SA, Procurando Nemo, Os Incríveis, Carros, Ratatouille, WALL-E, UP e Toy Story 3. Durante quinze anos, as ideias pareciam surgir e a cada novo anúncio, a dúvida era: como isso pode gerar algo interessante? Um rato cozinheiro? Um velho voando numa casa suspensa por balões? Parte do sucesso da empresa que substituiu os antigos longa-metragens animados pela animação digital sempre residiu em ir além do simples argumento do filme e se focar nas relações criadas pelos personagens, fossem eles carros, ratos, velhos, insetos, brinquedos, robôs, peixes ou heróis decadentes. A qualidade técnica sempre foi essencial, mas sempre serviu de apoio a uma história que era profundamente humana, mesmo que não houvesse humanos no centro das atenções. Durante quinze anos, essa fórmula funcionou, até que, um dia, houve indícios de que a fonte estaria secando. Carros 2 foi a maior decepção da companhia até agora. Valente passou longe de ser o sucesso esperado. Universidade Monstros e Aviões (um spin-off de Carros produzido pela Pixar) não foram tão ruins como os outros citados, mas não chegam perto do encanto de suas produções originais.

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A empresa anuncia dois filmes novos inéditos chegando em 2015 – um deles, sobre dinossauros, causa muita expectativa, mas quando, enfim, se esperava que a Pixar pudesse voltar ao ritmo dos melhores anos com alguma ideia nova e criativa, eis que a companhia anuncia também a realização de “Carros 3” e “Os Incríveis 2”. Cai na mesma rotina de boa parte dos estúdios que apelam para remakes, continuações ou refilmagens para compensar a falta de criatividade – ou para tentar, no apelo de personagens conhecidos, conseguir o suficiente nas bilheterias para se recuperar dos fracassos anteriores. A busca por dinheiro fácil, infelizmente, parece estar tomando conta até mesmo do mais criativo e brilhante estúdio americano dos últimos 20 anos. “Carros 2”, por exemplo, mesmo massacrado pela crítica e por parte do público lucrou quase 600 milhões de dólares. Já no caso de “Os Incríveis”, o apelo vem dos fãs que pedem por mais aventuras dos personagens. Não acho que seja a melhor solução para quem se especializou em criar as novas fábulas da animação do novo milênio – mas a presença do mesmo Brad Bird na direção me dá esperanças. Isso sem falar na continuação de Procurando Nemo, em 2015.

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Melhor mesmo é confiar que os escorregões dos últimos anos sejam acidentais. A Pixar é para meu filho o que os desenhos da Disney foram para mim na infância, e isso eu comprovo a cada vez que ele abre um sorriso e anuncia, com antecedência, qual desenho está começando na TV só pela música de abertura. Independente da qualidade do filme para mim, adulto, meu filho continua aprendendo a enfrentar as dificuldades e seus medos como fez Nemo, a respeitar as pessoas, como fez McQueen, a entender as diferenças, como fez Sully, a jamais abandonar seus amigos, como fizeram Woody e Buzz. Esse é, no fim das contas, o grande legado da Pixar, independente do que venha pela frente. E lá vou estar eu, levando ele ao cinema, quando as continuações, boas ou ruins, chegarem – e ao lado dele, até o pior dos filmes vai ser o melhor dos programas.

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