Fazer aniversário é, quase sempre, motivo de comemoração. Há aqueles que escondem a data e fogem no dia e preferem deixar o parabéns para outro momento. Há, também, os que vestem a melhor roupa e esperam os convidados chegar. Há, por outro lado, aqueles que se tornam tão importantes que é impossível deixar que a data se perca no meio do calendário. Pertencentes ao último caso, Instituto Histórico de Passo Fundo e Arquivo Histórico Regional separaram, durante todo o ano, datas para que a comemoração dos 60 e 30 anos traga para a cidade memórias, lembranças e um pedaço de história.
Desde o seu surgimento, em 1827, Passo Fundo passou por mudanças que resultaram no desenvolvimento atual da cidade. Por detrás das paredes, ainda que velhas, existe muita história, escrita por cimento, concreto e tijolo. História de um povo, história de uma época, história de uma cidade. Histórias e experiências que, ao longo do tempo, moldaram a sociedade passo-fundense e foram guardadas pelo IHPF e pelo AHR. Ambas as entidades trabalham para que o passado de Passo Fundo faça parte do presente e futuro da cidade. E, para dar início ao calendário de comemorações, ontem a noite a comunidade conheceu o presidente do Instituto Geográfico e Histórico Brasileiro, Arno Wehling, em uma palestra que explicitou a função e a importância dos institutos históricos no país.
Uma conversa com o presidente do IHGB
O IHGB tem por objetivo coligir, metodizar, publicar ou arquivar os documentos necessários para a História e a Geografia do Brasil. Em entrevista ao Segundo Caderno, o presidente explica que os institutos - que existem em quase todos os estados do país - contribuem para melhorar a relação do passado com o presente. “Somos o resultado de um processo histórico que chegou até nós”, inicia. Ele comenta, também, que estabelecer a função de um instituto dentro da sociedade brasileira contemporânea exige que se pense, ainda, nos desafios dessa sociedade. “Numa rápida visualização e longe de esgotar o tema: gerar riqueza e fazer recuar a pobreza, produzir conhecimento e aplicá-lo à inovação, incluir excluídos ou com participação marginal, generalizar e qualificar a educação e a cultura”, destaca. Dentro das condições impostas, os institutos colabora, na produção do conhecimento: “Os Institutos responderão a esses desafios produzindo conhecimento, contribuindo para sua disseminação, constituindo acervos, construindo memórias e identidades e assessorando políticas públicas no campo da ciência, cultura e meio ambiente”. Para chegar nesse resultado, Arno destaca que é importante ter claro o perfil do instituto e, também, abrir suas portas a professores, pesquisadores e colecionadores com o objetivo final de inventariar e ampliar os acervos e referências da instituição.
Além de destacar o papel dos institutos históricos como agentes na produção de conhecimento, o presidente do IHGB comenta, também, sobre a função da entidade junto ao ensino da história, especialmente às novas gerações: “Ter uma clara percepção da própria identidade cultural é aspecto importante para que cada um de nós a vivencie e simultaneamente perceba outras identidades, abrindo-se à diferença e percebendo a riqueza de suas manifestações”, ressalta. De fato, uma entidade que atua há 175 anos na reunião e disseminação da história do país é, conquentemente, capaz de auxiliar na construção da identidade e visão do Brasil. O tema, segundo Arno, é recorrente: “Os estudos sobre a memória social, campo desenvolvido nos últimos trinta anos, se revelam um fecundo celeiro de perguntas sobre como nos percebemos e como construímos nossas concepções sobre o passado”.
Dentro da identidade nacional, preservada pelo IHGB, as identidades municipais tem seu abrigo nos institutos históricos. Para Arno, é importante ver o “Instituto Histórico municipal, como mais uma entidade a contribuir para refletir e vivenciar as experiências históricas locais, sua interseção com as estaduais e nacionais e como elemento reforçador da própria identidade cultural da cidade e seu entorno”. O fato é que de memória em memória, as lembranças se recriam e constroem a identidade de uma cidade. “Conhecer essa identidade pode contribuir para encontrar as semelhanças e diferenças entre ela e os demais centros urbanos da região e do estado. Tais conclusões seriam positivas para a formulação de políticas públicas e de processos de tomadas de decisão vitais para o futuro da cidade”, enfatiza Arno.
E se não houvesse uma entidade capaz de resguardar a história, como seria a cidade? O presidente é enfático na resposta: “Seria mais pobre culturalmente, com menor conhecimento sobre si mesmo e menos possibilidades para produzir e disseminar conhecimentos”, conclui. Se andar pelas ruas da cidade já é uma viagem no tempo, capaz de remontar anos anteriores, passear pelos arquivos do AHR e IHPF é o mesmo que caminhar sobre o passado. Vale a viagem.