Antes mesmo de o roteiro ganhar a primeira linha, Noé já despertava a dúvida do mundo. Quando, no ano passado, foi anunciado um filme com a temática bíblica, os religiosos do mundo inteiro voltaram os olhos para a Paramount. Alheia a qualquer crítica, a produtora usou todos os recursos de Hollywood para fazer do longa muito mais que um filme com personagem bíblico feito para passar na Semana Santa. Noé é uma produção de US$ 125 milhões, repleta de efeitos especiais, contradições ao livro sagrado e, ao que parece, o início de uma volta aos épicos bíblicos.
Em Gênesis, Noé é o centro de quatro capítulos que o descrevem como um “homem justo” de 600 anos. Darren Aronofsky, diretor e, ao lado de Ari Handel, roteirista debruçou-se em textos judaicos antigos, tratados teológicos e manuscritos sobre o Mar Morto. Ao todo, a bibliografia do roteiro tem cinco páginas. Todo o estudo resultou em um longa cheio de referências e que foca, principalmente, na questão ambiental em que a história está envolta. Mas não é só isso: há que o roteiro aborda questões que não estão nas escritoras, a crítica religiosa apareceu. Três países árabes estão se recusando a distribuir o filme já que os muçulmanos consideram Noé um profeta. Além disso, alguns condenam o uso de imagens de figuras sagradas como sacrilégio.
Mas a reação já era esperada antes do lançamento do longa: Noé é a primeira superprodução bíblica em quase 50 anos e representa uma rejeição à fórmula dominante da última grande era desse tipo de filme – que aconteceu nos anos 50 e 60. Na época, enredos e personagens permaneceram na maior parte fiéis à narrativa original. Aqui, a mão de Aronofsky é aparente. O Noé do diretor é um naturalista transtornado que luta, de machado na mão, contra exércitos malignos. Entre gigantes de computador e efeitos de guerra, Noé é o retrato da luta pelo meio ambiente.
Deus manifesta sua ira com um dilúvio, mas que não serve só para punir o mal da humanidade em geral, mas, também, porque o desenvolvimento da civilização sobrecarrega os recursos naturais da Terra. Deus, então, se arrepende de colocar o mundo nas mãos do homem e decide recomeçar. Na trama, Noé é avisado em sonho que precisa construir uma arca para salvar a criação de Deus de um dilúvio. Não toda. Apenas uma parte. Revoltados, um grupo de opositores a Noé tenta se apossar da Arca em nome da defesa da raça humana e, ao mesmo tempo, luta para envolver em sua luta Ham (interpretado por Logan Lerman), o primogênito de Noé. Interpretado por Russell Crowe, Noé não é, exatamente, um herói. Ele vive com as consequências angustiantes dos seus atos não porque fez uma escolha, mas sim porque seguiu as ordens que recebeu. O personagem é complexo e não se resume em bom ou ruim – isso o torna o ponto forte do filme.
Além de Crowe, seguram o filme Jennifer Connelly – que interpreta a esposa de Noé –, Emma Watson – que viverá Ila, garota que se relaciona com um dos filhos de Noé, Shem – que é interpretado por Douglas Booth – e Anthony Hopkins que viverá Matusalém, o homem mais velho do mundo. O longa estreia hoje!